tag:blogger.com,1999:blog-193115972024-03-13T18:05:59.939-03:00A ConvidadaAnanda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.comBlogger183125tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-37426459110127067132015-11-18T09:02:00.001-03:002015-11-18T09:17:52.884-03:00O que recai sobre mim<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-OFiy3ZNGz6I/VkxouT2V4oI/AAAAAAAACq4/3NySkobAlzA/s1600/n_t__04_by_horstschmier-d9bx4p7.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-OFiy3ZNGz6I/VkxouT2V4oI/AAAAAAAACq4/3NySkobAlzA/s400/n_t__04_by_horstschmier-d9bx4p7.jpg" width="285" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Tudo que recai sobre mim</i>. Esse
poderia ser o título. Pensou a mulher – só queria ser escritora. Era assim, todos
os dias enquanto cumpria tarefas burocráticas: fichas, tabelas e procedimentos.
Gastava as letras, as palavras e a própria vida levantando pesos, avaliando
medidas até o fim do dia. E assim parecia viver na roda eterna, sempre a
espera.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma espera que não sucede e nem
alivia. Só queria ser escritora – pensava mais uma vez, enquanto sentia o
cheiro de mofo da sala entulhada de papéis. Vivia entre papéis, no entanto eram
frios, careciam de vida, de vento que os carregasse, de olhos que se enchessem
de ondas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Desperdiçava a flexibilidade dos
dedos e articulações. Não falava sobre a dança das nuvens nem descrevia
minunciosamente a sensação de formigamento que atacava a mão que colocava sob a
cabeça. Essas coisas eram as que realmente importavam. Não queria saber sobre o
PIB ou a balança comercial muito menos sobre as relações hipócritas e venenosas
confabuladas pelos homens “de poder”. No entanto ela sabia, tinha que saber. O
mundo prático batia a porta dia após dia. E ela respondia:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu só quero ser escritora.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Trançar meus dias em novelos de
sentimentos, mesmo que não fossem límpidos ou decentes (eles nunca são). Será
que escrever é ser devassado pelas perguntas? Helena dançava com elas, num
retumbante encontro de pessoas que jamais irão se tocar, de pessoas que se
colocarão em eterna dúvida, contudo sem medo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Só tenho medo de não escrever
nada. Murmurava ao acordar ainda caminhando sobre as linhas do papel pautado
dos sonhos trafegados. Rodovias insanas, período latente. De olheiras e da
janela parece observar o mundo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
-O olho da minha alma está
refletido majoritariamente naquilo que jamais verei – apenas entrevejo e
saliento: a vida não está aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É necessário retirar os pés do
chão. E o mundo ainda é um absurdo e tudo é vago. Como um retrato de ninguém.
Como o instante congelado, habitado por vazios. Tudo é de aço, até os homens. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
-Até mesmo eu, mulher, flor de
aço. Que triste!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- No entanto, me pergunto escrever
o quê? Para quem? Talvez eu só queira escrever cartas, desmembrar alguma coisa.
Dizer para alguém que não concordo com tudo isso. Que me dói ter olhos para ver
e lábios que não fazem nada, colados se calam. Pode ser que eu jamais possa ser
alguém que escreve, apenas cartas. Procurar o endereço do amigo que está longe
e dizer que lamento a fragmentação da amizade, que lamento os desentendimentos
silenciosos. E que não concordo! Tenho que dizer isso. Lá defenderei apenas as
explosões do coração, na carta que escreverei direi que meu peito é um jardim e
que tudo fora dele é doentio. Direi que sobrevivo do sonho enlutado de escrever. Direi
que não sou mais a mesma e que lamento ter mudado tanto sem que lhe dissesse
passo a passo. Direi que viver é foda e que tudo que eu quero está fora daqui. E
que esse negócio de monetizar tudo me mata. Que das mortes que experimento não
escrever é a pior. E que eu preciso escrever, mesmo que seja pra dizer que
saudade quando cozida demais vira sonho. Eu sei, meu amigo. Preciso escrever.
Perdão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p>Ananda Sampaio</o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-12682600464196008682015-11-03T16:32:00.000-03:002015-11-03T16:32:17.776-03:00Desacordo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-fVOu3g0O9qk/VjkLCt3x-iI/AAAAAAAACoU/aTpgd1Ry0J4/s1600/balerine_by_fernyday.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-fVOu3g0O9qk/VjkLCt3x-iI/AAAAAAAACoU/aTpgd1Ry0J4/s320/balerine_by_fernyday.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Descobri muitas coisas, mas a
maioria delas eu não posso contar. É como se montanhas tivessem desabado e
fosse possível presenciar a chuva voltar para o céu. A cada descoberta um grão
do mar que sou, muda de lugar. Posições se invertem. É muito para quem não sabe
de quase nada como eu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quero dizer, não quero calar. Mas
as palavras escorrem dos meus dedos como água, evaporam e partem para dentro de
mim. E lá eu já não posso mais alcançá-las. Visto o meu jeans surrado, mais
velho e feio porque é mais fácil. Não consigo me deter tanto em escolhas
desimportantes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E quando tento colocar a palavra
sou só silêncio retumbante. Ondas abstratas invadem e compactam tudo; abro a
caixa que guardei todas as coisas e ao levantar a tampa percebo que lá não há
nada. Como um caminho que se desfez junto ao caminhar, como o retrato antigo no
qual não me reconheço mais. Estaca zero. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Começo mais uma vez. Cato um
pouco daqui, junto com o que me entregam ali e não sabendo catalogar empurro
para dentro do armário. Guardado, trancado está. Mas desaparece e todo o
refazer deve ser iniciado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Assim são as mudanças, assim são
as revoadas dos pássaros que tendem a ir e vir. Até o dia que não retornarão
mais. E se desfarão junto comigo num pôr-do-sol aviltante e descabido. Eu sou o
pôr-do-sol no meio da manhã. Essa coisa toda descompassada, fora de hora e
latente. E isso ninguém vê [melhor pra mim]. Na verdade eu deveria ter sido
bailarina, lamento muito. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p>Ananda Sampaio</o:p></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-21808206442334721512015-10-20T16:08:00.001-03:002015-10-20T16:08:20.625-03:00Os corações todos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-js218NvVjzg/ViaRA8_pq2I/AAAAAAAACnc/fbwhVqnVvUk/s1600/Angeli%2Bin%2BPartenza%2BIIde%2BAlessandro%2BGiusberti.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-js218NvVjzg/ViaRA8_pq2I/AAAAAAAACnc/fbwhVqnVvUk/s400/Angeli%2Bin%2BPartenza%2BIIde%2BAlessandro%2BGiusberti.jpg" width="275" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Através do vidro da vitrine
assisto pessoas passarem. Alguns olham para o chão sem medo de atrito, outros
caminham com o olhar nas alturas – parecem procurar algo no céu. Fones de
ouvido, o que será que toca? Chinelos, tênis, sapatos, sandálias. Compenetrados
nas suas tarefas de trabalho que ficaram incompletas? Ou será que, assim como
eu, acordam já pensando em retornar as suas casas?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nesse redemoinho de pessoas que
desenham a cidade, divergem e convergem eu me vejo: um ponto, um grão, uma
vírgula inconveniente no lugar errado, separando sujeito e predicado.
Preocupada que em um momento oportuno seja substituída por um ponto e na mais
otimista das hipóteses, quem sabe, substituída por um ponto e vírgula (;).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Esse negócio de coração e mundo
não dá certo. A gente carrega pra todo lugar essa coisa pulsante e frágil.
Deveríamos deixá-la em casa, descansando, guardada no cofre. Que risco andar
com o coração por aí. Nesse lugar tão grande, planeta lotado de catástrofes um
coração partido ainda é uma desgraça.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Morrem milhares na Síria e
algumas dessas pessoas que passam levam agora na mente o medo do coração
magoado. Umas superam, outras metem bala na cabeça, na boca, no peito e até
acertam ele, o coração. Corajosos esses, matam tudo. Até a esperança. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas existem aqueles que suportam,
se blindam, se resguardam e vestem a roupa limpa para cumprir mais um dia de
trabalho. Para esses ainda resta alguma coisa, talvez uma vontade de tomar um
sorvete, de sentar no balanço enquanto a sua música favorita toca ou ainda
escrever uma carta abrindo o peito para o outro com coragem. Porque coração
também pode ser aberto com medo. </div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não sei qual dessas pessoas é
mais corajosa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há ainda o coração que não é seu,
outros carregam, mas que a nós preocupa ainda mais. Os corações de quem amamos.
Eles estão por aí, a solta. Sujeitos às mais intrépidas barbaridades. Meu Deus!
Que risco corremos todos. O coração de
minha irmã, meu pai e mãezinha. O coração do meu amor. Todos expostos às
intempéries. E como não posso sofrer? Sofro por eles, rio com eles. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vulnerabilidade. Estamos
vulneráveis – desabitados e habitados por tantos ao mesmo tempo. Numa solidão
contrastante e desviante. Mãos dadas são mãos vazias – mas crentes de si. Da
força dos dedos, do nó e do entrelaçamento. Nossos corações são também dedos,
pontas de dedos, são olhos e também são laços. Atados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Porém, soltos. Guarda teu
coração, por mim – pode ser que eu diga. Não, não guardo – tu dizes. Pra vida é
preciso peito, é preciso coração. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Embora sangre, ele é meu barco.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-66759118382237140432015-09-14T10:34:00.000-03:002015-09-14T10:34:22.474-03:00Prensa<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-oGVxMZB213o/VfbM0yCd6tI/AAAAAAAACiU/ZaOFy9qYTL8/s1600/sweet_reading_by_syinthetic-d76uvii.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="http://3.bp.blogspot.com/-oGVxMZB213o/VfbM0yCd6tI/AAAAAAAACiU/ZaOFy9qYTL8/s320/sweet_reading_by_syinthetic-d76uvii.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Tentei relatar minha vida pelo
avesso para que ela fizesse mais sentido ou desistisse de vez de fazer sentido
e não fizesse sentido nenhum. Zero a esquerda, zero a direita. Um vácuo oval –
que mesmo quando desaparece deixa mensagem. Não tem jeito, não se apaga uma
existência assim. Ela fica impregnada nas paredes, contornada nas cartas,
desenhada nos gestos, perdida nas ruas. E brilha mais quando morre, como a
morte espalhafatosa de uma estrela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Preciso escrever e ratificar
algumas questões, quando morrer quero deixar minha voz ecoando. Canto de
sereia, canto gregoriano ou ainda Caetano. Preciso deixar herdado para alguém o
verbo de mim. Contudo, não consigo. Confundo as palavras, não sei usá-las, não
estão bem encaixadas, os adjetivos não são redondos e as frases quase mortas,
anêmicas de efeito.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na vida não há precisão. Não preciso
disso – só queria um relato bonito e fresco como o orvalho que recai sobre a
flor na manhã. Não preciso de verdade, nem de resultado. Exploda exatidão! Te
odeio, te odeio e te odeio. Vou pular de capítulo, ler detrás para frente, como
os japoneses. Sem linhas, mesmo que a reta seja infinita, eu faço bico e digo não.
Quero as palavras, mesmo que mudas, quero as palavras totalmente loucas. Quero
as palavras mesmo que me foda.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quero escrever a minha vida que
finge. A vida que está por debaixo da sombra do meu guarda-sol. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não precisa ser
minha, só quero escrevê-la. Rogo ao Senhor das palavras, ao dono da sintaxe, da
semântica – não me deixe, não me deixe. Tenho que botar pra fora o monstro que
me deleta. Tenho que delatar o ladrão soturno que me esvai e se atira sobre mim
em busca de mais. Não posso levar o coração a mão, preciso proteger, preciso
dizer. Dizer tudo, mesmo que o resultado sempre pareça se aproximar do
inexistente. Afinal, existir é também desaparecer. Ou pelo menos tentar.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Grite aos outros: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Deixe-me ir que tenho pressa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-57270057057228685302015-09-02T15:02:00.000-03:002015-09-02T15:02:27.663-03:00Afogada na proa<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Df62PwcBlSQ/Vec5NDq0CUI/AAAAAAAACg8/6LNnibjsqjM/s1600/early-color-photography-1913-christina-red-marvyn-ogorman-8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="Mervyn Ogorman" border="0" height="215" src="http://3.bp.blogspot.com/-Df62PwcBlSQ/Vec5NDq0CUI/AAAAAAAACg8/6LNnibjsqjM/s320/early-color-photography-1913-christina-red-marvyn-ogorman-8.jpg" title="Christina in Red" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Morrem dentro de mim ensaios de
sonhos, traços abstratos de rosto, ressecam todos no sertão despovoado. Acenam
misteriosos os retratos recortados, os tantos olhos espalhados pelo chão – a sorrirem,
a chorarem, a ignorarem os vestígios cinzentos de dias contaminados. Endemias
de contrastes. Cacos contingentes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Na sinuosidade de tuas mãos não
vi asas, vi foices. Na dança de tuas sobrancelhas não vi teto e sim tempestade.
Tonta e desassistida na minha mais solitária solidão, onde só eu me encaro.
Onde só eu me ouço. Dancei no ritmo alheio ao compasso. Só de birra ou quem
sabe de cansaço.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Estado esse que retirou da boca
as palavras, das mãos a expressão. No coração um rasgo, um tiro seco, um beijo
amargo – um berro amordaçado. Talvez apenas uma sombra da loucura. Abraço de
madrasta, toque de navalha. Meu instinto de sobrevivência e meu aspecto de leoa
morreram no reflexo claro da lagoa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-18262687649928560762015-08-26T11:42:00.004-03:002015-08-26T11:49:05.044-03:00Transpor<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-BLi030GtofE/Vd3QKzNpxeI/AAAAAAAACgI/iageajd5wnY/s1600/london_lines___work_in_progress_by_carnegriff-d9776w0.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-BLi030GtofE/Vd3QKzNpxeI/AAAAAAAACgI/iageajd5wnY/s320/london_lines___work_in_progress_by_carnegriff-d9776w0.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nunca tinha tentado entender por
que me apaixonei pelas pessoas que me apaixonei. Talvez, hoje quando analiso
friamente e curvo meu corpo para trás consigo dizer o que vi em cada uma delas –
o que elas tinham que retiraram meus pés no chão. Em algumas encontrei
calmaria, pessoas que me rememoravam a sensação das férias de infância na casa
de praia. O ar salgado e grudento, o cheiro bom da pele, mistura de sal e
protetor solar, a sensação indescritível da proteção dos meus pais. A
impossibilidade do perigo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Outras não me deixaram perceber
muito a que vieram. Antes que pudesse dizer algo sobre tais, essas pessoas
evaporavam e a conclusão é de que o segredo delas não me pertencia. Fui apenas
uma passagem, um abrigo mais ou menos seguro numa noite torrencial. Na verdade,
a maioria passou assim por mim. Enviesada, tímida, traços sem desenho, curvas sem sentido. Não
pude sequer enxergá-las direito. Caso lembrem de mim
agora, serei apenas uma dúvida entre a provável existência material e a
etérea e improvável existência de um sonho. Nada comprovado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Uma delas eu vi. Pus os olhos e apreciei sua geografia. Era uma locomotiva descarrilada,
correndo insanamente rumo à colisão. Pessoas que parecem andar de peito rasgado,
expondo sua organicidade emocional, sem nenhuma noção da <i>extrordinariedade</i> daquilo. Malabaristas conscientes do circo da
vida. Claudicantes. Clowns.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os olhos grandes eram confortados por sobrancelhas espessas e firmes. Embora não goste de me ater a essas
descrições físicas – contudo, preciso dizer. Honestamente, aprecio os traços da alma, os sistemas sanguíneos,
as moradas que guardam inúmeros jardins suspensos dentro de nós. Locais onde
subsiste a verdadeira vida. E ela abriu para mim, rasgou a pele, olhou nos
olhos e permitiu contemplar todas as dores e amores encravados naquele
território vasto e sem domínio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“O importante é perder o domínio
de si” – ela me aconselhou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“A falta de domínio pode nos
levar a loucura... Nunca conheci alguém que quisesse ficar louco” - retruquei assustado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
“Tenho mais medo daqueles que
escolhem a sanidade. Esses devem ser loucos pra caramba” – ela disse e riu.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eu me comprazi. Concluí que
adentrar os territórios alheios é perder-se. Só assim compreendi que meu prazer
não estava em rastrear o outro, mas em descobrir a mim mesmo. Na verdade, tudo
que eu quis foi identificar minha própria loucura e somente agora sei que há
anos já vivia de mãos dadas com ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-9425236931020887682015-08-12T17:07:00.002-03:002015-08-13T08:20:36.222-03:00Franciscos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-6S-MFQ59H_0/VcunY22jBgI/AAAAAAAACfE/YvxuQ5cOpow/s1600/a760482ca92556f8fb602b93363dae8d-d2xsy1g.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-6S-MFQ59H_0/VcunY22jBgI/AAAAAAAACfE/YvxuQ5cOpow/s320/a760482ca92556f8fb602b93363dae8d-d2xsy1g.jpg" width="230" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Eram todos “Franciscos”, só mudava
o segundo nome, o que vinha em seguida. Eram cinco e além deles também havia
elas, “Franciscas”. Deixados pela mãe que não podia resguardá-los, abandonados
pela mãe que abdicou, inclusive de si própria.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ao menos numa coisa ela acertou:
os nomes. Todos cumprem a sina do Francisco, aquele famoso que nos fala da
resistência do amor, da persistência de levá-lo aos cantos mais obscuros do
mundo. Somente um nome como esse poderia salvar aquelas crianças de serem
apenas mais uma tragédia mais comum do que já eram.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Abrigadas num abrigo que não é o
de nascimento. Eles são confortados em braços estranhos, são alimentados por um
pai ausente, invisível. Gravitam entre a magistral beleza da caridade e a cruel
realidade do abandono.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dos cinco apenas dois não foram
levados para novos lares, lares burocráticos que os absorveu. Apenas dois
restam. Provas vivas da dor de ser ainda mais só no mundo. A teoria que diz que
quanto mais sozinhos, maior se torna o mundo se fez verdade na vida deles. O
mundo adiante, ali próximo à porta é tão aterrador quanto o de dentro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não há primos para visitar e
relembrar a infância. Não há bolo quentinho com café feito pela avó que adora
cada visita, que cada dia se sente tão mais só. Não há muitas fotos, nem
obviamente porta-retratos. O que há é uma predominância do vazio. Perguntas sem
respostas, rejeições e imposições duras, frias e cruas. Um amargo oculto da
vulnerabilidade humana.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E ainda o pouco de compadecimento
que se tem é porque os Franciscos habitam corpos de anão e não de crianças.
Talvez crianças de fato nunca tenham sido, nunca foram cuidados, antes de tudo
tiveram que se cuidar. Barrados no portão da infância, não puderam entrar. A
primeira lição foi como sobreviver com as próprias mãos. Sem seios para apalpar
docemente. Sem mãos para acariciar e tranquilizar. A vida se apresenta como
arame farpado, cercas e cercos.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Um deles, quando entro,
delicia-se com um mamão. A fruta é da cor laranja, o suco lhe desce pelos
lábios e ele a suga numa rapidez e numa precipitação despudorada. Como se ali
estivesse a seiva de tudo que lhe falta. Suja as mãos, respinga na camisa desbotada
de gola velha. Francisco gosta de mamão. Ao menos isso sobre ele, esse fato
ameno e tão comum eu sei. Vou carregar comigo não o garoto deixado para trás,
mas o garoto que gosta de mamão. Deus te guarde, Francisco. Só ele sabe... só
ele sabe [repito infinitamente].<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-18524389203777681412015-08-04T11:51:00.001-03:002015-08-04T14:42:53.165-03:00Engavetado<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-8CBxzJnDcdg/VcDRaIFuuHI/AAAAAAAACeI/-zaBHDTCz8M/s1600/paper_crane_by_a_drawer_4ever.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://2.bp.blogspot.com/-8CBxzJnDcdg/VcDRaIFuuHI/AAAAAAAACeI/-zaBHDTCz8M/s320/paper_crane_by_a_drawer_4ever.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os laços são os mesmos: furtivos.
Seiva que alimenta todos os dias – que fortalece os nós, que nos comprime em
um, ou quase dois. Minhas fragilidades são meus distanciamentos – nelas estão
os segredos que não falo, as dores que não proclamo. Ao menos as dores, elas são
minhas e não gosto de dividi-las ou publicitar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Resguardo meu amor e tudo que me
alimenta dos flashes, das câmeras, só não das frases. Preciso palavrear o
aspecto de tudo que me toca, de tudo que sopra em meus ouvidos e me parece um
conselho bom, daqueles raros que vale a pena seguir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não utilizo meu sorriso como uma
ferramenta qualquer, embora ele seja livre não é frio, não obedece a cálculos e
não se encaixa no tempo. Sempre rio nas horas erradas, porque nas horas certas
sempre é burocrático demais.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Gosto das gargalhadas, do sorriso
em explosão. Daquele tipo que quase extingue meus olhos, transformando-os em
linhas curvas e simpáticas. Só deixo ao vento as minhas palavras, as minhas
mãos e os meus olhos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O resto é meu e divido com
aqueles que sempre estão perto, gente de carne, osso e ranhuras. Guardo para
elas as singelezas do meu ser e também as agudezas do que sou e não me orgulho.
Veneno e antídoto – como todo mundo. Sou assim, o mais comum dos seres. Contudo não sou simples.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Até minhas caretas são tímidas.
Surgem quando querem [autônomas] e vão embora muitas vezes sem serem vistas.
Tenho caretas que acontecem por dentro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minhas outras coisas permanecem
guardadas e cheias de pó. Engavetadas, acanhadas e quase ensimesmadas. Quem
sabe um dia eu consiga torná-las palavras e elas possam sair por aí vestidas e
armadas com os nomes que eu dei. Com as roupas que vesti.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p> Ananda Sampaio</o:p></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-59398883353863797182015-07-28T16:52:00.002-03:002015-07-28T17:10:54.639-03:00Mão<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-R2qENYxH1w0/VbfdjEjY4GI/AAAAAAAACdo/nXOMsoHwd8E/s1600/flowerpola_2___fakecolour_by_ungeheuer.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-R2qENYxH1w0/VbfdjEjY4GI/AAAAAAAACdo/nXOMsoHwd8E/s320/flowerpola_2___fakecolour_by_ungeheuer.jpg" width="260" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Somente agora sinto pra valer os
reais impactos. Nesses dias o mundo tem entrado em mim pelas entranhas,
pelo coração, pelos corredores e pontes. Consigo sentir a textura das cinzas em
minha boca, mas não sinto o gosto, cinzas só têm saber de ontem. E do ontem só
lembrança. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Impelida desde quando as
pontas dos dedos dos pés tocam o chão no início do dia até quando meu corpo se
estira novamente sobre a cama. Não há sossego nem nos sonhos. Acordo e os
ombros já estão pesados das tarefas futuras.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Opacidade dos dias, capa sobre o
sol. Porque os prazeres, mesmo que pequeninos, são sempre adiados. Assim
termino guardando todos na minha caixinha dourada, embaixo da cama. Lençóis e
mais lençóis cobrem meu corpo – em cada uma dessas camadas descansa uma parte
de mim. Abaixo deles eu danço e uso as mãos como se fossem travesseiros e minha
consciência feito pedra repousa sobre elas. Minhas mãos são minhas mães. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minhas mãos me abraçam, defendem
e destroem. Viver é destruição [embora a frase seja curta sua margem é longa]. É ali que repousam as minhas abnegações. Jóias, luzes e coisas.
Coisas e mais coisas que não dizem nada. Apenas destacam o espaço vazio e com
tantas coisas guardadas me sinto cada vez mais pedinte. Mais uma vez as mãos
se estendem, espalmadas, abertas, dedos retos. Caia do céu, dizem. <i>Só quero
flores, chuva e calor</i>. Nada melhor poderia cair do céu. Nada. Nada é a palavra
mais oca que encontrei no dicionário. Como uma mão que tenta segurar nuvens.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minhas mãos em solitários acenos
se espraiam pelo mar, tocam a areia e não barram o vento. Giram na brisa – desenham na areia da praia com os dedos. Minhas mãos, minhas ordens, meus gestos, meu
avesso. Mãos que se agarram procurando um calor complacente. Mãos quase portões
das lágrimas. Mãos, guardiãs de mim.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-26693526003874600202015-07-22T17:27:00.003-03:002015-07-22T17:32:24.742-03:00Reparos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-GnBwYiBLPfo/Va_8p9V2l5I/AAAAAAAACcg/hbnP5dMolKM/s1600/nothing_sweeter_by_papillonelfique.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-GnBwYiBLPfo/Va_8p9V2l5I/AAAAAAAACcg/hbnP5dMolKM/s320/nothing_sweeter_by_papillonelfique.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
Digo não a resistência pacífica. Ela de nada me serve – nem mesmo como dama de companhia. A minha permanência já dura milênios e muito tem me custado. Permanecer fechada a boca que não quer calar. Determinações que ultrapassam meu ser, qualquer pedaço de carne. Músculos que servem para sustentar todas as anomalias que meus olhos se banham ao ver.</div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
<span style="line-height: 21.2999992370605px;">Não existem marcas indeléveis. É a dor, sempre a dor que nos visita na calada da noite – rindo do nosso despreparo [chutando cachorro morto]. Enquanto tentamos nos levantar e recompor-nos e novamente se equilibrar sobre o andar bípede, como se nunca tivesse andado de quatro pés. Como se nunca tivesse evaporado a tal dignidade burguesa.</span></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
<span style="line-height: 21.2999992370605px;">O diabo da noite, do dia e da fogueira que queima. Queima os ossos, invade as vias aéreas e sanguíneas. A dor materializa-se então. Remexendo por dentro, persistindo. Como um verme que suga sem restrições, tudo é sobrevivência.</span></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
<span style="line-height: 21.2999992370605px;">Sobreviver a si mesmo e todos os infernos que criamos com tanto zelo por dentro, sobreviver à capa que, embora com muitas advertências, acatamos e que nos sufoca. Não podemos dizer não a vida. Nem interromper o fluxo. “Mas, saber que posso desistir me alivia” – já ouvi dizerem. Desligar, sair do standby, estado que passamos maior parte do tempo.</span></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
<span style="line-height: 21.2999992370605px;">Drenar o fluxo, construir uma represa, conter no peito a força da água e deixa-se levar por ela. Não me custa muito, parece não custar quase nada. Ar – ficar sem ar. Desequilibrar o corpo. Ruptura da energia da potência de vida.</span></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
<span style="line-height: 21.2999992370605px;">Vida e morte – lados complementares [é cara ou coroa, mano]. Jogue no lixo seus meio termos e as meias palavras. Porque disso não há quem precise. Pode ser que ouvir</span><span style="line-height: 21.2999992370605px;"> </span><i style="line-height: 21.2999992370605px;">down em mim </i><span style="line-height: 21.2999992370605px;">resolva meu problema, resolva minha foça, revolva meu revólver. E assim eu volte a caminhar na corda bamba dos meus dias. Nas voltas loucas que a vida dá. Nas pontes que ligam. Beijos e selos. A tristeza também mente.</span></div>
<div class="ecxMsoNormal" style="background-color: white; color: #444444; font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 15px; line-height: 21.2999992370605px; margin-bottom: 1.35em; text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-62569741359542968172015-07-22T09:28:00.002-03:002015-07-22T09:31:30.560-03:00Tribunais<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-2WxfMOlNBDc/Va-MW9EKQCI/AAAAAAAACcQ/Oiy7F_N9K2E/s1600/huzun_boyandi_yuzun_by_seainside.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-2WxfMOlNBDc/Va-MW9EKQCI/AAAAAAAACcQ/Oiy7F_N9K2E/s320/huzun_boyandi_yuzun_by_seainside.jpg" width="301" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
Sempre temi ser julgada injustamente, não por qualquer pessoa, mas pelas pessoas que amo. De uma maneira meio que instintiva ou analítica compreendi desde cedo que o julgamento alheio é inevitável. As pessoas tentam ler umas as outras, geralmente se utilizando de padrões e combinações internalizados anteriormente. Quando percebi isso, percebi também que elas se equivocarão em suas leituras e que pode ser que vez ou outra realmente consigam vislumbrar algum ponto verdadeiramente meu.<u></u><u></u></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
Depois entendi mais outras coisas, uma delas é que a autodefesa desesperada não adianta. Não nos defendemos de alguém que nos ama, o que fazemos é desabafar. São essas pessoas, únicas no mundo, que estão dispostas a ouvir nossa versão e testemunho. Todas as outras, com raríssimas exceções, não nos dariam essa chance. Um fator que a maturidade nos esfrega na cara: o mundo não vai sentar pra te ouvir. Os julgamentos alheios costumam ser equivocados justamente por isso.</div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<u></u><u></u></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
Depois de algumas necessárias experiências rezei para que a amargura não tivesse um superávit no meu coração. Porque sempre me preocupei com esse negócio de guardar rancor. E o pior, terminar contaminando o mundo com ele. Levando comigo uma bagagem pesada e desnecessária.<u></u><u></u></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
A partir do momento que comprovamos que a capacidade de julgamento humana é falha, passamos a perdoar os outros e a nós mesmos com mais facilidade. Porque a aprovação do outro é quase sempre instável e precisa ser alimentada constantemente com ações positivas. E com pouco tempo de vida já sabemos que não temos apenas uma cor, que mudamos, extravasamos e erramos... E como erramos. Somos bons errantes.<u></u><u></u></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
Nada disso que digo é pra servir de conselho. Tem caminhos que temos trilhar com os próprios pés pra encontrar a saída. Temos mesmo que sentir na pele e, finalmente chegar onde precisamos. Para alguns o caminho pode ser mais longo, há os que aprendem rápido e há também aqueles que sofrem mais. Alguns têm mais alma, outros mais coração e outros mais racionalidade. E cada uma dessas pessoas são diferentes universos. E nos encontros e desencontros da vida damos de cara com todas elas e é assim que a gente aprende a viver.<span class="HOEnZb" style="font-size: 12.8000001907349px;"><span style="color: #888888;"><u></u><u></u></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele morreu hoje. Ao contrário do
que se pode pensar, ele não terá velório ou missa de sétimo dia. No entanto, se
existe céu, sem dúvida, terá lugar pra ele, afinal o rapaz não tinha pecado. Sua
alma era cristalina, pode crer. Isso, até mesmo você, poderia perceber.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pela manhã cedo o mundo se deu
conta da sua morte, ou pelo menos, o pequeno mundo que era consciente da
existência dele. Porque para todo o resto ele não tinha muita importância. Apenas
algumas poucas pessoas choraram sua passagem, apenas algumas poucas pessoas conheceram
a sua história. Mas, todas essas poucas pessoas o amavam e isso sim era
realmente importante. Sequer preciso pedir a você que o coloque em suas orações
– porque ele não precisa disso. Ele está além. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quando chegou lá em casa já era
adulto e valente, quase tão feroz quanto é possível ser. Mas, aos poucos
descobrimos que toda aquela ferocidade era apenas resultado de anos trancado,
de anos sem muito afeto. Aos poucos vimos ressurgir alguém extremamente carente
e meloso. Por vezes, tenho convicção que ele pensava ser um gato. Esfregava o
rosto nas nossas pernas, e onde mais pudesse... Queria contato, sempre precisou
de contato. E havia uma praça, bambus, banquinhos, quadra e coreto onde ele
adorava correr, cheirar e deitar. Apenas ver o mundo, sentir o vento e sonhar
com um descampado onde existisse um pouco mais da tão sonhada liberdade. Sem
dúvida, era a pracinha o seu lugar preferido. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele foi encontrado já morto
naquela posição – aquela em que ele tanto dormia e que ele tanto gostava. E de
todas as inúmeras e incontáveis formas de morrer que existem ele morreu
dormindo, sereno. Imagino que em algum momento na madrugada os órgãos foram se
desligando um a um – até que tudo parasse. Sem dor, sem medo. Somente a certeza
idiota da esperança. Porque até ele sabia que diante da morte a esperança é o
artefato mais inútil que existe.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Provavelmente, o corpo será
enterrado no meu quintal, num dia de quarta-feira, no mês de julho. E quem sabe
um dia, quando o futuro chegar e quiserem investigar a civilização à qual
pertencemos o corpo dele estará lá. Na sua posição favorita e a todos parecerá
que ele ainda vive. Apenas decidiu-se por um sono eterno.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Todas as feridas que eram
continuamente abertas pela doença que tinha agora finalmente, terão de curar-se.
Sem medicamentos, dores ou qualquer outro artifício criado pelos humanos para
prolongar a vida. Porque a vida que ele vive agora se alimenta de outras
fontes.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quatro patinhas, duas orelhinhas
pretas e longas. Corpo branco e pintinhas pretas, assim eu poderia descrevê-lo
fisicamente. E junto a isso acrescentaria o caminhado meio bambo e os seus
pequenos olhos castanhos. A partir de hoje isso é o que saberão dele. O resto,
me desculpe, está comigo e irei carregá-lo no meu coração para todo o sempre.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio </div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-73921074908803553982015-07-13T09:39:00.000-03:002015-07-13T09:58:58.516-03:00Janelas que piscam<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-e4sHhUwvneQ/VaOxUWrdXOI/AAAAAAAACbI/sZuZhbt2MK4/s1600/b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-e4sHhUwvneQ/VaOxUWrdXOI/AAAAAAAACbI/sZuZhbt2MK4/s320/b.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Conversando sobre o tempo e a
chegada dos trinta, uma amiga me disse que sempre fica impressionada com a
mudança que o tempo deixa nos olhos. Não estávamos falando das ruguinhas
simpáticas que partem os cantos dos olhos em pequenas fatias quando sorrimos, mas daquela pálpebra
que cai sobre o globo, cada vez mais cansada. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pesquisei na internet e descobri
que, em média, piscamos 25 mil vezes por dia. Nervos conectados, estímulos
visual e sensitivo. Consegui então, compreender melhor aquele velho ditado que
diz que os olhos são as janelas da alma. Os olhos são a janela da vida, através
deles contemplamos as expressões, nos surpreendemos com nosso reflexo
(cada vez mais distante) no espelho. Piscamos, piscamos e assim a vida segue e,
de repente, a banda já passou. Espalhamos o líquido lacrimal por todo o globo
ocular.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Minha mãe me disse uma vez: “Filha
é duro ver nossos ídolos envelhecerem”. Assim como aquelas janelas velhas, da casa da vovó, que de tanto abrir e fechar, terminam meio capengas, caídas para o lado, tortas de tanto movimento repetitivo. Assim cansamos nossos olhos, o esforço repetitivo vai arrancando aquela resistência que as engrenagens novas possuem. Aquela força que tenta conter a força do repuxo. Assim como o corpo termina cedendo à força da gravidade e os músculos do coração cansam-se de contrair-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Olho para o casal de amigos já com filhos. Vejo a criança
se contorcendo em birra, vem a mãe e tapa a boca que berra. Sorvete, bico, bombom
ou peito. O pequeno ser está quase satisfeito, mas o importante: a boca
calou-se. Silêncio, todos agora só querem silêncio. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Reagimos até o último instante. Braços teimam em procurar outros braços, as mãos outras mãos... Olhos são os detetives do mundo, entrelaçam-se com outros olhos, são até capazes de beijar um rosto. De dizer sim ou de gritar não. Os olhos podem conter todo o desespero calado que guardamos. Por isso eles piscam, por isso eles fecham. Porque eles libertam e guardam. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-67431617126084952602015-07-02T12:54:00.003-03:002015-07-02T12:56:08.707-03:00Asas de Vento<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-zbsQZvb2yZI/VZVetHGp1qI/AAAAAAAACas/sYnH5tWSUKI/s1600/bird_by_arielrat.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-zbsQZvb2yZI/VZVetHGp1qI/AAAAAAAACas/sYnH5tWSUKI/s320/bird_by_arielrat.jpg" width="226" /></a></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Sobre a minha cabeça voa um pássaro </div>
<div style="text-align: center;">
Voos circulares, iguais, sintonizados</div>
<div style="text-align: center;">
Sou o pássaro e enxergo a mim</div>
<div style="text-align: center;">
Estilhaços no chão </div>
<div style="text-align: center;">
Me abaixo e tento juntá - los </div>
<div style="text-align: center;">
Mas já não há como</div>
<div style="text-align: center;">
Espatifado está o meu destino </div>
<div style="text-align: center;">
Minhas asas batem, são fortes</div>
<div style="text-align: center;">
Contudo não causam estrondos</div>
<div style="text-align: center;">
São extensões de vento</div>
<div style="text-align: center;">
Canções aéreas de desventuras desbotadas</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Acompanho meus passos</div>
<div style="text-align: center;">
Desvio o caminho, a rota é outra</div>
<div style="text-align: center;">
Mas lá está o pássaro </div>
<div style="text-align: center;">
A me vigiar e não me deixa fugir</div>
<div style="text-align: center;">
Ele diz palavras que saem dos meu lábios</div>
<div style="text-align: center;">
"Sou como sou. Retrato mal acabado"</div>
<div style="text-align: center;">
Não adianta correr , nem se esconder</div>
<div style="text-align: center;">
Lá está ele, cá estou eu</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Pássaro preso na gaiola invisível </div>
<div style="text-align: center;">
Pássaro tonto de voos precipitados</div>
<div style="text-align: center;">
E não se pode fugir</div>
<div style="text-align: center;">
Só é possível sonhar</div>
<div style="text-align: center;">
Com novos sonhos jamais vistos</div>
<div style="text-align: center;">
Com gaiolas para se quebrar</div>
<div style="text-align: center;">
Com alguma coisa além </div>
<div style="text-align: center;">
Com a liberdade que nunca se tem.</div>
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-11654114292202696892015-06-24T09:03:00.001-03:002015-06-24T09:16:11.445-03:00Rostos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-YX1xFOpAWL0/VYqclLmNt8I/AAAAAAAACaU/m3yBQ6E0760/s1600/blog2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-YX1xFOpAWL0/VYqclLmNt8I/AAAAAAAACaU/m3yBQ6E0760/s320/blog2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os outros foram improbabilidades
matemáticas que tive que cruzar para encontrar você. Porções de afeto, acesso restrito. Quem sabe
zonas de perigo. O encontro quase nunca se dá, o desencontro é experiência
constante, mas não menos dolorosa. Sombras que não se casam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No jogo de combinações e
probabilidades as pessoas se afetam. E o que levamos delas são relatos
inconclusos sobre seus rostos, sobre seus gestos, sobre quem elas eram. Faces
que não se formam, que no momento em que as capturamos já se foram. Partiram.
Paredes cobertas de retratos equivocados.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Nosso destino é precipitação.
Saltamos para a vida num voo cambaleante. Somos todos filhos de um parto
precoce, engatinhamos quando já deveríamos estar de pé. Sempre atrasados,
sempre desencontrados. Tocamos-nos, mas não nos enxergamos. Mar de enganos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Buscamos respostas que sempre nos
chegam atrasadas, nos chegam quando já aprendemos a viver sem elas. Do mesmo modo, se aproximam as pessoas e nos oferecem teto quando já nos habituamos a viver
olhando as estrelas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A ironia é que você não ofereceu
nada, apenas embalou seu coração em papel jornal e me entregou como se fosse
pouco. No entanto, era muito, muito mais do que eu receberia de qualquer um.
Muito mais do que todos aqueles rostos borrados ousaram me dar. Num ato simples
e despreocupado arranquei o meu. Sem me preocupar com as cicatrizes e com o
buraco que deixaria em mim, porque eu já tinha o seu. Eu já tinha o mundo. Eu
já tinha muito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Consegui enxergar teu rosto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-3610867083099244592015-06-10T22:50:00.001-03:002015-06-11T09:07:50.221-03:00Quase certeza [Conversa de bar]<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-wL3-iSVSUt0/VXjpHx82ibI/AAAAAAAACaE/p9Z1yoj8pg4/s1600/the_bar_by_boo_the_hamster.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-wL3-iSVSUt0/VXjpHx82ibI/AAAAAAAACaE/p9Z1yoj8pg4/s320/the_bar_by_boo_the_hamster.jpg" width="272" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Sou o que sou, matéria apartada
do ventre da minha mãe. Mais uma artéria por onde percorre o mundo. Pedaço
milimétrico de incertezas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Todas as manhãs quando acordo
um sentimento de estranheza me persegue. Me jogar debaixo daquele chuveiro
gelado, vestir aquela roupa me parece a coisa mais idiota a se fazer. Olho pro
lado e vejo um mundo repleto de caos nas relações humanas, no acúmulo absurdo de
dinheiro e na insanidade que alimenta as pessoas que guardam tantos objetos.
Nada faz sentido, são muitos os sentidos, mas eles não me dizem nada. O mundo
está um caos e todo dia as pessoas seguem seu caminho em linha reta. Como se a
vida fosse uma linha reta. Preciso controlar minha loucura, preciso permanecer
insano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quem disse isso foi Camilo, meu
amigo, sentado na mesa do bar perto da universidade. Enquanto contávamos os
trocados quase preocupados com a conta. Eu escutava e sabia que tudo que me
dizia eu entendia. Já tinha sentido uma sensação de vácuo por alguns momentos.
Enquanto ia pro trabalho, enquanto me obrigava a cumprir uma tarefa porque a
sobrevivência é minha imperatriz.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
E sentar ali, na mesa daquele bar
solitário, fazia todo sentido. A cada gole, copo que deslizava pela minha
garganta mundos de significados emergiam diante de mim. Eu, apenas mais uma
molécula do mundo, sabia que talvez o único dia dos meus dias que trazia para
mim alguma mensagem eram aqueles que eu me deixava ali. O álcool a estremecer
meu sistema nervoso e provando pra mim que a sobriedade pode ser uma prisão de
segurança máxima.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele olhava profundo pro fundo do
copo americano enquanto eu dizia:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu sei, eu sei. Mas, como disse
Renato, palavras são erros. Mesmo que exista um desejo louco de gritar ao mundo
sua total incoerência não haverá palavras, meu amigo. Não haverá. Ficamos por
meio tempo presos no tempo verbal do absurdo. E as palavras são nossos
grilhões. Estamos ligados a elas. Você e eu, súditos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Preciso persistir, disse ele.
Quem sabe exista em mim o bom selvagem – para quem tudo é simples e se explica.
Quem sabe preciso apenas procurar outra forma de ser. A forma fórmula de ser um vencedor. Com os
dentes sempre a mostra, não como sinal de ameaça, mas de sorriso farto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Eu estou farto e quase infarto.
Embora saiba que amanhã meu coração parecerá pronto pra outra e tudo que tenho que fazer é ir para a parada e pegar meu
ônibus lotado na hora certa. E, de repente tudo parece fazer sentido de novo. <o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Esquecer. Vivemos de
esquecimentos para não morrer de memórias. Amanhã talvez nem lembre dessa
conversa. Amanhã meu corpo terá se livrado do álcool e vou ter uma quase
certeza de que me contenho e que esse copo de cerveja é apenas um copo de
cerveja. E que não houve descoberta e que tudo foi conversa de bêbado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-35248412489174293622015-06-02T09:51:00.001-03:002015-06-02T09:51:33.954-03:00Monogramo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-68seslERfqA/VW2mxWjMw7I/AAAAAAAACZw/RMDM9q_NZvE/s1600/blog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-68seslERfqA/VW2mxWjMw7I/AAAAAAAACZw/RMDM9q_NZvE/s320/blog.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quem nunca morou na própria impossibilidade
não sabe o que é sentir-se desabrigado. O voo é amador, mas é um voo. Mesmo sob risco constante de mais uma queda.
[A paisagem é minha].<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A impossibilidade passa então a ser mais um
abismo atravessado, mesmo que de maneira atravancada. Morar na impossibilidade
é estar preso no purgatório – habitar um lugar que entre os quase vivos e
mortos não se salvam todos.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os olhos atentos e globais do meu
gato me observam. Até ele parece acreditar numa solução [até ele quase sempre
tão alheio me diz sim]. O corpo pesa e sobre os ombros parte da minha vontade é
sentida. Parte da minha vontade se estende e se alavanca. Suspenso. Além das
rotas, dos dias e das tarefas. Levita, se interpõe e é quase dono de si. Quase
absoluto e quase consegue superar o mundo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quase.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
É preciso perder a conta, perder
o medo, perder o chão, perder o controle. Por fim, perder-se <i>labirinticamente</i>. Perder a língua e a
fala. Fazer malabarismos de silêncio. Perceber que mesmo quando tudo está
quieto, ainda há movimento. O mundo está subcutâneo. A correr por debaixo da
terra. A vida mesmo quando calada se move nas pontas dos pés [ensurdecedora].<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Atravesso desertos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-60761586680065228602015-05-25T20:57:00.001-03:002015-05-25T20:57:10.241-03:00O dia que voltei a ouvir Legião Urbana<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-sqDCO3tGgq8/VWO2MdYavxI/AAAAAAAACZY/rLUcXfmlmRM/s1600/renato_russ_zeca_CERTO.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="222" src="http://3.bp.blogspot.com/-sqDCO3tGgq8/VWO2MdYavxI/AAAAAAAACZY/rLUcXfmlmRM/s320/renato_russ_zeca_CERTO.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Passar
muito tempo sem ouvir algum artista que você gosta é como adiar o prazer. É
como se estivéssemos que esquecer o quanto nos faz bem ou quanto nos afeta,
para depois nos reencontrarmos e ter a sensação como se fosse a primeira
vez. E passa um filme, momentos,
sensações e um encontro inesperado com a pessoa que um dia eu fui. Com todos
aqueles conflitos que durante muito tempo carreguei e uma encarada naqueles que
ainda cultivo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Renato
Russo foi a primeira pessoa, depois dos meus pais, a me dizer coisas sinceras
sobre o mundo. Inesperadas, malditas e poéticas. Através dos seus versos eu
construí percepções e alterei olhares.
Quando criança sempre que vínhamos da cidade que morávamos para
Teresina, no toca fita do carro rodava</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> o disco Quatro Estações.
Enquanto dormíamos no banco de trás, eu e minha irmã, éramos embaladas pela voz
de Renato e pelas suas poesias que se digladiavam entre o divino e profano.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Quando
me tornei adolescente tudo mudou. O mundo mudou em trezentos e sessenta graus e
eu não sabia mais quem era. De repente, lembrei da voz. E tive a certeza que
tudo passa, assim como ele nos diz na música metal contra as nuvens. A
irredutibilidade de Renato, a resistência e a coragem de dizer não me moveram e
me fizeram ter algo parecido com a fé no meu peito. Muita coisa passou e correu
levadas pelo rio que flui debaixo da ponte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Algumas
incertezas, inseguranças e inadequações evaporaram. Foram levadas pelos dias,
pelas experiências. Uma bagagem que não faz falta, mas que faz ter certeza
daquilo que não quero guardar. E muitas outras coisas ficaram, permaneceram.
Afixaram-se em mim e não me percebo mais sem elas. E são esses tais detalhes
que são tocados quando dou o play e sai a voz dele.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Dividimos
uma coincidência astral da qual me orgulho, somos do mesmo signo: áries. Signo
do fogo, da guerra. Mas, teimo em dizer que não gostamos de travar conflitos –
somos vítimas de nós mesmos. A guerra significativa está dentro de nós. Quando
tentamos direcionar nossas energias e não sermos nossos próprios destruidores,
nossa própria ruína.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Renato,
amo você!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif";">Ananda Sampaio</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-28070626674192052992015-05-20T16:11:00.005-03:002015-05-20T16:11:40.744-03:00Aquela palavra<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/--3jL95uKfEI/VVzcS72BGgI/AAAAAAAACXw/ZCbzrmnGuOk/s1600/amor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" border="0" height="266" src="http://4.bp.blogspot.com/--3jL95uKfEI/VVzcS72BGgI/AAAAAAAACXw/ZCbzrmnGuOk/s320/amor.jpg" title="Joseph Lorusso" width="320" /></a></div>
<br /><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Os olhos que enxergo o mundo não
são os mesmos que uso pra ti observar. E assim é com todos os meus sentidos que
se destituem de qualquer medida ou apreensão pra te traduzir em mim. Aquelas
vezes que me jogo sobre teu corpo tentando invadir teu espaço e que te abraço
num desespero calado é porque te amo. E não respeito as leis da física.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Guardo tua presença com apreço
incomum e quando você sai me embrulho com teu lençol. Sempre invado
sorrateiramente teus espaços quando eles estão solitários e os preencho com
minha presença e sei que ali naquele espaço e tempo nos reencontramos. Naquele
lugar nós resistimos. E ali o mundo não pode nos espezinhar. Somos donos de nós
mesmos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No teu sorriso amanhece o sol e nas
tuas costas deitadas minhas mãos encontram os morros, os rios e o chão [emoções
tácteis]. Sou feliz – deduzo. Feliz por todas as brincadeiras e por parecermos
por vezes tão infantis, tão crianças e tão velhos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em alguns momentos carregamos juntos
o peso da vida e das impossibilidades que nos cercam as saídas e junto
levantamos. Erguemos o rosto e ensaiamos um sorriso. E nós mesmos construímos
nossas portas de emergência e inventamos mais uma vez a nossa vida. E não, o
mundo ainda não nos tragou. Há resistência em nós, há aquela palavra.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Amor.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-64176924085207288962015-05-16T21:51:00.001-03:002015-05-16T22:23:45.149-03:00O corpo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-RMCf7eu0lD4/VVftOM2bOUI/AAAAAAAACXg/3qPOG3aPcZc/s1600/body__by_nothought.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-RMCf7eu0lD4/VVftOM2bOUI/AAAAAAAACXg/3qPOG3aPcZc/s320/body__by_nothought.jpg" width="240" /></a></div>
<div dir="ltr">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
Por agora, coloco a mão sobre o lado esquerdo do peito e posso dizer que ele pulsa. Meu abdômen se contrai e descontrai com os movimentos dos meus pulmões. Afirmo categoricamente: em mim há vida.Vida que pulsa, que geme, que luta e que nos momentos de tristeza hasteia "bandeira branca, amor". Porque a vida corre em mim num tráfego constante. Aperto meu pulso e sinto os batimentos cardíacos e o percurso do meu sangue abastecendo meu corpo de oxigênio.</div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
Mas não, isso não basta. Meus olhos também vivos desejam contemplar muitas visões, viagens e paragens. A vida não cessa e eu mesmo dizendo não, digo sim. O tapete dos dias se estende sob os pés e tenho que trilhar e seguir.</div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
Não há mapas, nem pontos de referência. No entanto, ela está aqui comigo. Nos meus pensamentos, na minha respiração e no meu corpo que pode, pode sempre, pode sempre mais. Parto, então para a desvairada rota da vida. Que me dirige. Um impulso e o pulso ainda pulsa. O músculo ainda atrofia e gera força. Corrida.</div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
Corro pros braços do meu amor e peço contenção. Mas os gastos e as contas são altas, infinitas. Porque a vida não é indolor, embora pareça sempre velha e gasta. Arranha por dentro. Corro pro meu amor. Dedos, mãos e braços. Silêncio. O meu amor me salva, graças a Deus, graças a ele estou bem. Vez ou outra somos rocha. Porque o corpo aguenta. Ah sim, menina como ele aguenta. Ele é só carne, mas sempre resta o espírito.</div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div dir="ltr" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-77168533884498681672015-04-27T14:29:00.003-03:002015-04-27T14:33:52.134-03:00Fôlego<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-r4CpkUl_OKg/VT5x8Nil6BI/AAAAAAAACW4/TRyRSUNjMFs/s1600/diegoidef.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-r4CpkUl_OKg/VT5x8Nil6BI/AAAAAAAACW4/TRyRSUNjMFs/s1600/diegoidef.jpg" height="320" width="224" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Há dias mais iguais que outros e
nesses dias a minha sombra cresce a ponto de me engolir. Meus membros seguem
movimentos premeditados junto com mãos e dedos numa coreografia meio homem meio
máquina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em alguns dias assim minha alma
se aparta de mim e viaja por aí. E assim um ser sem limite faz parte daqui.
Numa relação atarracada tento equilibrar a pessoa que sou e a que desejo ser, mesmo que com um gosto amargo quase sempre presente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
Na relação com o mundo – através
das palavras ou do código gestual encontro muito mal entendido pelo caminho.
Especialmente naquilo que digo. O silêncio é o melhor amigo de quem não deseja
se comprometer. Cada palavra que falo, escrevo enreda um nó. E cada discurso
deixa a marca de minha total contradição e incompreensão nos muros e murais da cidade que amanhece junto a mim. Nas ruas desertas e cheias de sentido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Dentro, aqui, elas cozinham e frequentemente saem sem estar
prontas. Nunca estive pronta pra mim – quem dirá para o mundo. Face anódina, manchada de tempos idos [belos
tempos que não se acabam nunca]. Sobre os lábios nenhum batom. A boca é instrumento de proclamação. Duto para transmitir o que já é demais e me
salta. Estou sem fôlego.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Preciso escrever. Remendar os
farrapos. Ir adiante mesmo que com pés incertos e mãos suadas. A vida interpela
a todo instante: sinais, bloqueios, fragmentos e frases feitas. Estou só.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-23745736619036357732015-04-17T18:28:00.001-03:002015-04-17T18:28:12.844-03:00Intervalo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Bg0arDbd1kY/VTF60kkr96I/AAAAAAAACV0/TNwUKOaCNUc/s1600/josephlorusso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Bg0arDbd1kY/VTF60kkr96I/AAAAAAAACV0/TNwUKOaCNUc/s1600/josephlorusso.jpg" height="243" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Trinta anos não são trinta anos.
Trinta anos podem valer por cinquenta, por sessenta, por vinte, por dez ou por
nenhum. A idade muda, o último dígito,
na maioria das vezes. Mas, nem sempre muda junto o espírito ou o coração.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chego aos trinta com menos roupa
no guardarroupa, menos sapato no sapateiro e mais livros na estante. Chego aos
trinta com uns sonhos na manga. Com vontades e desejos ainda por realizar. Com
planos frustrados e outros de pleno sucesso. E ainda prefiro autorretratos a
selfies.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A vida não é um mar de rosas e
nem um mar de lágrimas. Existem muitas coisas interessantes e bonitas nesse
imenso meio termo. Chego aos trinta amando o meio termo- não sou jovem, nem sou
velha. Sou apenas quem escolhi ser e outros alguéns que ainda não consegui me
desapegar – embora tenha tentado. Sou o ínterim.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Contabilizo três gatos e quatro
cachorros – companhias que têm me ensinado cada vez mais sobre a vida. No meu álbum
de pessoas, guardo as mais bonitas, algumas me lembram girassóis e outras a lua
e algumas mais são estrelas do meu céu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chego aos trinta lamentando as
minhas incompatibilidades com o mundo e me lembrando que são elas os meus
pilares e a minha digital. Chego aos trinta querendo ser a pessoa que meus cães
pensam que sou. Planejo me exercitar, sair dessa vida sedentária que levo desde
os vinte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Agradeço por mais uma década de
vida, de vivências e de longos pensamentos. Queria uma memória mais expansiva –
cada vez mais lembrar se faz um ato prazeroso. Queria guardar aqui dentro os
melhores momentos, com seus detalhes e nuances.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Chego a essa idade e não sou nem
um pouco parecida com quem eu imaginei que seria. Graças a Deus!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-36955051463933598962015-03-23T16:30:00.000-03:002015-03-23T16:30:00.489-03:00No ônibus<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-4VtG5u_gr9A/VRBpduz_yII/AAAAAAAACVk/c-0VJenTmzg/s1600/In_the_bus_by_peps4o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-4VtG5u_gr9A/VRBpduz_yII/AAAAAAAACVk/c-0VJenTmzg/s1600/In_the_bus_by_peps4o.jpg" height="240" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
A felicidade é uma velha bêbada,
pensei. Essa frase se soergueu em minha mente enquanto vinha dentro do ônibus.(Andar de ônibus foi uma das
sensações de maior liberdade e medo que senti. Andar de ônibus me ensinou a
disfarçar o medo, me ensinou um pouco sobre como manter as aparências em
situações de pânico).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Enquanto estava dentro daquele
enorme transporte consegui pensar sobre as coisas práticas e não práticas do
meu dia, ou melhor, dos meus dias. O vai e vem das pessoas transmitia sempre a
sensação de controle, de fluxo, de máquina com engrenagens bem ajustadas. E,
assim, eu podia relaxar rememorar minhas tarefas, pensar em frases estranhas,
reavivar sentimentos e me dedicar a sentir. Durante uma época a paixão
circulava pelas minhas veias e meus olhos enxergavam um mundo melhor. De
repente, tudo parecia ter jeito. De repente, tudo poderia florescer.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O meu coração se descolava do
peito a cada batida. Minha caixa torácica não parecia suportar os pulos
apaixonados. E aí essa frase veio: a felicidade é uma velha bêbada. (E nesse
tempo, ainda não conhecia Bukowski). Todo o torpor, todo o álcool com seus
efeitos e dimensões – era a felicidade. Um efeito, uma química, uma leveza...
Mas estava velha demais, cansada demais. Não poderia se perdurar muito naquele
estado. O corpo precisa ser preservado, às vezes, de tanta felicidade. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Mas a felicidade não aceita
conselhos.Ela precisa se expandir, invadir as célular e dissolver-se no universo, como uma estrela no fim. Ela precisa estreitar os laços e marejar os olhos de ondas. </div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>Você é o lugar mais bonito que já pude estar</i>, digitei na mensagem
de texto do celular. Não era S.O.S, mas um SMS. Naquele lugar que me encontrava
jamais necessitaria de socorro. Só de espaço, muito espaço. Espaço onde coubesse
tudo. Tudo aquilo, que parecia nuvem, que parecia bruma... Que parecia pedra e
que parecia sal.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i>A felicidade é tua mão, e teu olho direito mais baixo quando ri. </i>Pensava
enquanto olhava pra ele nos meus pensamentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No mar dos meus dias existia um farol. Num
lumiar ritmado – como um vaga-lume. Estou certa de que era tu. Um farol, como
um olho que abre e fecha, abre e fecha. Como um coração que aperta e solta,
aperta e solta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
O coração que bate dentro da
minha casa é teu. E essa é minha maior fragilidade, meu desengano. A felicidade é uma velha bêbada sorrindo de
histórias repetidas sobre os incontáveis dias de sol e chuva. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-79354516659690690392015-03-10T17:32:00.002-03:002015-03-10T17:32:40.213-03:00Fragile<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qxnxl2FTCdI/VP9U1XyuchI/AAAAAAAACVQ/jAg2yqKYTWQ/s1600/ananda%2Bblog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-qxnxl2FTCdI/VP9U1XyuchI/AAAAAAAACVQ/jAg2yqKYTWQ/s1600/ananda%2Bblog.jpg" height="320" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Quase todas as nossas
vulnerabilidades podem ser vista a olho nu. Por isso, não me encare, não me
verse o olhar. Não retire minhas camadas – deixe pairar a dúvida
e a eterna lacuna. Assim se faz mais belo o espírito. Assim se faz mais fácil. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não preste atenção naquilo que
não digo, nem no que desenho no silêncio das noites frias. Façamos de conta que
sou uma figura plana. Sem subidas. Sem quedas. Sem descidas. Deixa tuas mãos
surfarem sobre o meu cabelo e assim faz de conta que sou mar. Mar a amar. Amar
a beira mar. Mar a beira de mim.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="EN-US"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="EN-US">“Time is as weak as
water”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i><span lang="EN-US"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pois, sobre a fragilidade da água
flutuam a nuvens de sol, de chuva e de algodão. Sobre a frágil água vão os
enormes barcos, barquinhos, embarcações e veleiros. A água carrega as pétalas e
as pedras. E as águas e o tempo na sua mais pura fragilidade carregam muito,
quase tudo... Varre o mundo, varre nós dois. Por isso, não me encare. Não me
descubra - deixa que caminho seja um eterno refazer-se. E eu me junto a ti e tu
se junta a mim.</div>
<o:p></o:p><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ananda Sampaio</div>
</div>
Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-19311597.post-62751098919975160362015-03-03T09:24:00.001-03:002015-03-03T09:24:11.154-03:00Desventuras de um coração<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-e3AS5U1QNPA/VPWnufguKHI/AAAAAAAACUw/UMB3kB7BpVY/s1600/heart.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-e3AS5U1QNPA/VPWnufguKHI/AAAAAAAACUw/UMB3kB7BpVY/s1600/heart.jpg" height="213" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Não gosto de carnaval. Meu
coração não saltita ao som da percussão e não tem data marcada pra ser feliz.
Desculpe, foliões. Meu coração não brilha como
lantejoulas e não sopra confete ou serpentina.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele deseja se recolher ao som de
um violão baixinho e bater compassadamente. Meu coração não tem calendário. Não
se conforma ao nascer do sol nem descansar ao pôr do sol. Tem vontade própria e
no seu guardarroupa a fantasia não se reserva apenas ao carnaval... Mas a toda
e qualquer época do ano.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Fomos abandonados a própria sorte
e não tem marchinha que nos convença do contrário. O meu peito, que lhe
carrega, sabe que ele quer crescer tanto que ás vezes sufoca. E sabe também, que
ele se encolhe tanto, em alguns momentos, que tenho que meter a mão no fundo
até encontrá-lo e me dar conta que ele está do tamanho de um caroço de feijão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Muda de tamanho, de cor e até de
formato. Como se acompanhasse com meus olhos o mundo, o vasto mundo. Por alguns
momentos já senti saltar – parece que tinha decidido sair pela boca e abandonar
o peito estreito que o guarda. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
- Vontade de ganhar o mundo. Ele
disse e calou-se.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Passo dias e esqueço que ele
existe, tamanho que é o seu silêncio. Noutros ele brota e parece renascer fortuitamente. Trabalha com força, rígido e bombeia sangue por todo meu corpo
entupindo minhas veias e artérias de vida, potência de vida em seu estado mais
puro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele mora comigo, se alimenta dos
meu sentidos, mas é independente. Filho maduro e autossuficiente que mora na
casa dos pais; já não dá satisfações. Pra minha sorte ele fez morada em mim.
Pro meu azar ele não mente.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Pula dali, saltita de cá. Ele
sempre resiste – seja carnaval ou não. O meu coração resiste aos impulsos mais
violentos, às batidas mais agressivas... Ele não se <o:p></o:p></div>
priva, ele se expõe. O meu
coração canta aos domingos ensolarados. E me fala ao ouvido aquilo que ousei
ignorar.<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Ele me prende com correntes, me
maltrata. Dói carregá-lo. Mas já existem
raízes e nossa relação jamais será breve ou amortecida pelo cotidiano. O tédio
não nos condena, jamais nos assola. Carrego esse bendito ou maldito na palma
das mãos, na sola dos pés e no peito encardido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Com ele a vida passa e sinto
correr pelas minhas células todo o estupor das emoções que não sou capaz de
processar. Pobre corrente sanguínea! O sangue tem que correr para não coagular.
Quanto a mim só resta dizer sim ao meu senhor, esse coração de carne, músculo e
sangue. Essa bomba relógio que bate em meu peito. Essa coisa grande. Numa noite
de carnaval ele só pede Cartola.<o:p></o:p></div>
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Ananda Sampaio<o:p></o:p></div>
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Ananda Sampaiohttp://www.blogger.com/profile/05412502488834161529noreply@blogger.com0