Lembranças

"E a meninada respirava o vento até vir a noite e os velhos falavam coisas dessa vida: Eu era criança, hoje é você e no amanhã nós" Milton Nascimento

Cristina Montei

Passei tempo considerável tentando prolongar minha infância. Tentei acreditar em papai Noel até os 12 e fingia que acreditava, quando aos 10 anos já tinha desaparecido por completo essa fantasia do meu peito.

Guardei minhas memórias como se soubesse o quanto iria precisar delas mais adiante. Tenho em minha mente uma miscelânea de cenas, luzes e atores que trazem a minha pessoa a leve percepção de riqueza de vida.

Banhos de chuva, cavalos, riacho e uma imaginação empertigada de boas referências. Porque a infância não é feita apenas da criança, mas também dos adultos que estão ao lado e ajudam a preservá-la. Por isso teria eu que agradecer às pessoas que plantaram a sementinha e permitiram a minha imaginação ser livre.

Tem a casinha com teto de lençol que meu pai fazia pra mim e minha irmã. A insistência de minha mãe em arrumar o mosqueteiro das nossas camas, que pela manhã sempre estava desfeito, afinal eu e minha irmã gostávamos de dividir apenas uma cama. Preciso agradecer aos meus cachorros, com os quais mantive e mantenho um tipo de comunicação que não consigo com as pessoas e que me faz uma pessoa completa por fim.

As casas das minhas avós onde dispensei incontáveis horas de brincadeiras. A companhia dos primos e primas pelas trocas de risadas nas tão esperadas férias.

E a vida? A vida deveria ser uma eterna infância. Bom seria se jamais tivéssemos que nos despir de nossa criancice. Seria melhor o mundo se povoado apenas por estes seres que fomos e jamais seremos novamente.

Ananda Sampaio***