3 de julho de 2012

Aquela Mulher


"A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante" Engenheiros      

Talvez seja verdade aquela máxima que diz que “é preciso se perder pra poder se achar”. É necessário cruzar os descaminhos e as experiências jamais vividas – ser atrevido pelo menos uma vez na história da sua própria vida.
                
               E, crendo nisso e num monte de outras coisas mais, aquela mulher totalmente anacrônica lançava-se a uma nova vida. Agarrava com mãos e pés os ponteiros do tempo crendo que poderia mudar ou reformar o ciclo usual das coisas. Mas, no fundo, devido a sua considerável maturidade sabia que brigava com o tempo como uma criança mimada briga pelo brinquedo que não é seu e nunca será.
                
       Mas, ela caminha a margem do que jamais poderá ser um dia. O tempo passou, levou o rosto liso sem vincos, levou a espontaneidade da juventude e a permissão para ser lindamente tola – que somente nos jovens cai tão bem. E não adianta, existem ferramentas , palavras, gestos e maneirismos que foram embora com o passar dos aniversários, das contas para pagar, dos bebês que foram chegando... Cada coisa levando um pouquinho do fôlego, da disposição.
                
           Talvez inconsciente da sua própria pele, ela se maquila e tenta disfarçar os números. Sempre em busca do que ficou lá atrás, plantado nas fotografias. O coração está gasto e a garganta não está mais disposta a gritos de guerra. Mas, ela deseja brincar, vestir aquela  roupa da moda e sair pra balada. Quer ir a fundo, mesmo que não tenha fôlego pra voltar. Precisa apostar as fichas e de repente a vida parece uma mesa de pôquer em Las Vegas – blefe,blefe, blefe. Ela pensa:

-Eu posso mais.

E aposta alto, põe fogo no que fora. Retira as algemas – sem frio na barriga. Arrisca-se por um terreno desconhecido. E ás vezes, se olha no espelho e percebe que a cara de fim de festa não é tão cool quando se tem a idade que tem. Ela se vê num daquele anúncios publicitários de banco. Uma mulher da sua idade numa casa bela e iluminada tomando café como o marido e filhos e não “numa propaganda de refrigerantes” como diz aquela música do engenheiros.

Ananda Sampaio***

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