13 de junho de 2008

Ela


SIM! Era ela! Quanto tempo teria se passado? Só a reconheci por conta do cheiro.A única coisa que parecia não ter mudado. O cabelo estava mais curto, as roupas mais sóbrias. É bem verdade, que ela não tinha me visto. Até aquele olhar ávido e ansioso, que a ela pertencia, ficou para trás, sabe-se lá onde... agora os olhos eram fixos e certos demais.- concluiu ele sentindo uma pontado no peito.

Ele a conheceu moça, talvez naquela época cheia de frivolidades e se antes era ela lugar comum, no tempo atual não sabia mais dizer ao certo o que era ela. Olhou-a com tanta atenção, vasculhou-a em cada canto, por trás das portas, embaixo dos tapetes, abriu as janelas...e nada! Queria saber, precisava saber se ela tinha mesmo conseguido desfazer-se de tudo que era, de tudo que eles um dia tinham sido. Desesperou-se ao imaginar que ela teria jogado fora as lembranças das tardes, das longas tardes que passaram juntos. Teria mesmo esquecido aquele simples prazer que tinham em simplesmente se tocarem?

O que teria sido feito daquela menina? Ele bem soubera notícias dela, através de um ou outro conhecido em comum.Notícias quentes, frias e até trágicas. A vida dela mudara bastante, nesse momento ele então compreendeu que ela devia mesmo ter se perdido várias vezes e quando finalmente, encontrou-se nada do que ela era restara. Como fênix que renasce das cinzas, ela reinventou-se, seus gestos perderam aquela espontaneidade jovial e foram substituídos por gestos leves e bem calculados.

Que saudade por um instante aponderou-se dele, sentiu uma infantil vontade de chorar, uma amargura no peito. Um desejo de também desfazer-se, assim como ela fez consigo mesma, ou melhor, como a vida fez. Sentiu-se muito sozinho, parecia que o mundo, um dos mundos que conhecera em sua já longínqua juventude, Findara-se!!!

E ela lá com seu jeito estranho, desconhecido e até áspero parecia dizer para ele:

-Não, meu bem! nada restou...tudo foi-se!

Uma quentura subiu-lhe às faces e de repente ele imaginou o que ela pensaria dele, se o tivesse reconhecido. Teria ele envelhecido demais? Ou ainda traria no corpo e na alma algum resquício do rapaz que deveras havia sido? Ela gostaria de revê-lo? Ou traria no rosto um olhar indiferente e o cumprimentaria de forma educada e fria?

Cansou-se de tantas perguntas, ele não queria mesmo saber nada disso.Nada disso teria mais importância! Era um homem casado, tinha filhos quase crecidos e uma vida feita. Pra quê tanto devaneio? de repente sentiu sobre os ombros o pêso que a maturidade traz e caiu na real. Tinha que lembrar que não era mais aquele garotinho.Não tropeçava mais nas palavras ao falar, aquela timidez tinha ido embora.

Que se dane!- pensou ele. Um sentimento de revolta acelerou o coração.Que raiva do tempo, do desenrolar da vida, da perda das ambições que um dia foram suas.Que raiva de tudo aquilo que tinha restado, que ele não pedira, mas que a vida lhe dera.

O que teria a vida feito dele? Que estúpido, que vida, que dia - pensou ele.Por quê ele teve que vê-la? Para constatar seu fracasso? Tavez ele ainda a amasse, ou apenas apegara-se a idéia que ele guardava dela. Era amor de juventude, o melhor de tudo...ela era um pedaço concreto do que um dia ele foi. "Que doloroso! que cruel!por um instante perdi-me no tempo, no que era, no que sou!"

Foi quando ele resolveu aventurar seus olhos, catando cada pedaço daquele lugar. Até perceber que ela, ela mesma definitivamente perdera-se naquele mar de gente.

Ananda Sampaio

Um comentário:

Luciana Lís disse...

Maguinha,Maguinha.
Na realidade nem preciso te dizer o quanto me identifiquei com o conto!
Perfume, sensações, nostalgia...

Love love so much!
=*