13 de outubro de 2008

Cidade da Delicadeza





O trinco mexeu e eu sonhei que fosse ele ali, do outro lado da porta. Quem sabe tenha batido a saudade e ele tenha percebido que não vive mesmo sem mim. Ele é minha cidade e eu preciso percorrer as ruas que ele construiu pra meu acesso. Preciso visitá-lo num ar de eterna turista em cidade nova e cheia de deslumbamento.


Eu preciso entrar e sapatear pelas calçadas. Caçá-lo mesmo que pelo cheiro.Parar num bar e beber algo bem gelado. Nele sempre faz muito calor. Eu preciso, preciso que ele volte. Se não for ele, nem sei como será tudo. Aquele sorriso, o sorriso dele é o sol que sempre me acorda. Luz a irradiar as sombras do meu rosto. Preciso deitar a beira da praia e ler no céu que escolhemos como nosso teto, as declarações de amor que sempre fazemos calados.


Nessa cidade tão bonita, as flores desabrocham na minha janela. Ele planejou tudo. Como arquiteto compassado que é. Ele me percebe e nesse lugar meu, não há muros. Nunca há muros. Ele calculou exatamente o tamanho dos espaços, são pequenos. Assim nunca me sinto só.


O tempo é sempre o de amar. Eu adoro doces e sempre há na soleira uma cesta cheia deles. E desse jeito ele conseguiu encontrar várias maneiras diferentes de dizer que me ama. Ele é um gênio. Na minha estante há sempre um bom livro a ler. E tem uma varanda, com uma rede onde me debuço nas tardes de vento e me alimento de palavras.


Ele construiu o paraíso para mim dentro dele. Sempre delicadamente arregimentado. E ainda há música, sempre boa música pra ouvir. Nos fundos daquela casinha amarela ele deixou uma bicicleta pra que possa à tarde pedalar.


E pra eu nunca me sentir sozinha. Uma centena de cachorros, gatos e companhia. Comigo mesmo só trago a certeza do amor, foi o tesouro que ele me confiou. Mas, nesse lugar tão especial não há ninguém capaz de roubá-lo de mim. Porque nessa cidade só quem habita sou eu.

E as coisas pairam então em paz. Nessa cidade em lugar nenhum, perto de não sei onde. É onde eu me deleito.

O trinco girou, a porta abriu e era você. Aqui meus sonhos sempre se realizam.

Ananda Sampaio***

3 comentários:

Cynthia Osório disse...

Delicada sua "cidade" e também suas palavras ao descrevê-la!
Sensível analogia...muito lindo texto!

Vinicius disse...

Oi,

eu gostaria muito de dizer isso para ela, ao vivo. Mas infelizmente só posso fazer assim, escrevendo...

Espero que um dia você ache alguém que lhe seja sincero.

Ana Amelia Teixeira disse...

Ufa!
Que cidade maravilhosa, tão simpatica, singela, cheia de amor e fantasias, onde tudo é perfeito e no final o que era sonho,desejo, vontade sempre se realiza...
ameiiiiiiii

Tenho que achar a minha...