27 de outubro de 2008

Auto-retrato




"Meu coração é um anjo de pedra de asa quebrada." Caio F.



Sou rosa cálida, plantada em chão de terra seca, quente e cansada. Sou talvez jasmim e brisa, que é soprada pelo hálito quente teu. Sou igreja sagrada e rave psicodélica. Sou o que fizeram de mim, ou que eu fiz do que fizeram de mim. Sou sombra de mim mesma, sim e não da mesma boca.



Sou código indecifrável e ao mesmo tempo livro aberto, lido por qualquer um que queira saber de mim um pouco mais. Sou amor difícil , batalhado , convencido de que vale a pena amar. E se não sou um pouco de ti também , minto. Sou o riso indecoroso e ás vezes o contido. Sou parte luz e outra escuridão; que é só minha. Breu da minha alma rasgada e marcada. E que só a mim pertence.Somente no meu corpo cabe.



A lágima salgada e turva. Os dentes bem alinhados, que gritam risos. O riso de canto de boca, ou a boca ali no canto do riso. Sou o silêncio que mais diz. Sou sim a filha, a criatura e uma dia criadora. Sou jardim, roupa amassada e suja de catchup. Sou a falta de noção de espaço quando caminho, ou apenas me movimento e esbarro em tudo aquilo que meus sensores nunca detectam.



A mente que sempre procura reter. O que ninguém percebe ou que poucos entendem e o que quase ninguém vê. Sou olhos cegos e ouvido aprumados. Legião Urbana, Elis e os tambores africanos das músicas de Milton. Sou ainda coração apaixonado, vermelho. Sou meu nome diminuído no diminutivo, nandinha.



Sou filha da minha mãe e cria do meu pai. Irmã protetora, sempre dona de uma certa razão. O corpo pequeno, membros finos. Pernas demais. Sou a leveza do que não mais sou e o peso daquilo que nunca deixei de ser (embora quisesse).



As amizades que perdi ou que se perderam de mim. As que ganhei , conquistei quando apenas me dei o trabalho de ser eu mesma. As lutas que perdi, as brigas que comecei. E o decretos de paz que clamei.



Quem sabe sou a figura ali naquele retrato, no criado-mudo da minha avó. Ou que sabe serei ainda aventureira dos livros que li e das histórias que eu mesma escrevi. Ou apenas, primeira pessoa do singular. reto. Duas letras. Vogais. E+U.





Ananda Sampaio***


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