19 de setembro de 2011

Um escrito ao acaso



Wednesday morning at 5 O'clock by CurlyTops
Meu amor,

Acordei e senti teu cheiro nos meus lençóis. E isso me serviu como presságio de um bom dia.  Os girassóis de Van Gogh saltaram-me às pupilas e eu num estado de agradecimento pisquei ao mestre. Meus pensamentos, então formaram uma teia de cenas.

Senti saudades do meu avô, e um aperto veio ao peito. Pensar que nunca mais poderei em vida retê-lo entre meus braços. E assim como sempre tem sido, fui em frente. Meu sapato parece ter encolhido, peguei o guarda-chuva e saí num dia de chuva rala.

Senti saudade de muita coisa hoje. Você sabe que às vezes acordo assim, rememorando minha vida e tenho a impressão de guardar em mim tantas vidas... Sinto falta das nossas conversas metafísicas, lembra?

Quanta coisa já compartilhamos. Temo até que em mim não exista nada que você não conheça. Sempre dizem que é importante manter o mistério, pelo menos sei que em mim não há deserto, mas sim inúmeras paisagens exuberantes como as do Taiti pintadas por Gaugin. Quanto a meus dias sucedem como costumeiramente e sei que não foram desvios ou desvãos. Foram como tinham que ser.

Mais cinzas, sem você aqui. Mas, sobrevivo. Você sabe como teimo em ser teimosa. E como me entrego a tudo que acredito, inclusive nessa tristeza que hoje me abateu... Mas com a qual sei lidar bem.
Eu sei meu querido, que sempre há uma razão pra eu me sentir assim. Não a vejo de fato, mas a entrevejo sempre a me espiar e me tomar como lar. Mas, se estou aqui a te escrever é porque tenho sobrevivido. 

Às vezes saio, ao ar livre. Caminho  e observo as pessoas, tão anônimas a transpassarem meu caminho e assim tenho certeza que sou a protagonista da minha história. 

E tento arrancar delas algum pedaço traduzível, algo que exercite em mim essa vontade de escrever sobre a alma dessas tantas pessoas.

E me sinto melhor, de repente sei que não há nada que melhore meu estado de espírito do que escrever, mesmo que seja pra alguém sempre invisível, do qual a face nunca vi.... se coloco em palavras materializo a minha existência em algo mais palpável que a solidão.

Ananda Sampaio***

Um comentário:

Edemir Fernandes Bagon disse...

Pontinhos


saudade é assim livre
como mar entrando no céu...
como coisas que a vida traz
e que também são levadas
assim como uma oração que se queira fazer a Deus


assim
superfície do mar
vento tocando o barco
busca e fé
caminhos que se encontram na palavra

saudade é doação do tempo aos olhos
para aquele que descobre a cada instante
que a vida se preenche com pontinhos iguais na forma
mas sentidos ausentes



se não consigo dormir
é porque me perco na imensa saudade do que sinto
[até mesmo nos sonhos]



edemir fernandes bagon


(Para vc...)