Parecia
o muro de Berlim. Insistente a me separar do mundo. Alongava-se e ia sempre em
direção a minha rota. Do outro lado estava o mundo e todo seu modo compulsivo
de existir. Eu não o via, mas ouvia as buzinas, os passos atordoados dos
passantes, o sino da igreja. Pulsava a meu lado a sua maneira sempre muito pragmática.
O distanciamento crescia com o tempo. Condensava-se com as experiências, cada
vez mais vagas.
Finalmente
a chave girou na fechadura. E eu estava a salvo, na minha zona de conforto: sem
conflitos, sem fingimentos, sem impactos avassaladores. Deitei no chão frio do
meu quarto, de bruços. Fechei os olhos e permiti a Terra que me abraçasse e por
alguns instantes estava eu de volta ao útero de minha mãe. A solidão que tinha
matéria de chumbo, agora era extraída de mim por alguma força maior. Balouçava
no ar, distendia-se cada vez mais.
Ao abrir
os olhos, notei que ela se reinstalara dentro de mim. Vacilei os olhos sobre os
retratos luminosos de expressões minhas, didaticamente estava ali a minha vida.
Anacronicamente.
Eu
sou Rhoda, Jinny, Susan, Neville, Bernard e Louis. Sou seis ou mais. Uma xícara
de café parece me absorver. Os pés sobre o chão, as flores apontando na minha
janela. O espelho que deseja me unificar numa única aparência.
O meu
distanciamento se dá pelo cansaço: das conversas frívolas, das análises sempre
alheias, das verdades inférteis. O muro está lá, há quem deseje derrubá-lo, mas
não o faço. Quero meu país ao passo de minhas mãos pequenas e apenas. Minhas
estantes cheias de livros. E eu me pronuncio, seja em seis ou mais solilóquios.
Eu em todo meu egoísmo me inclino.
E do
outro lado ditadores cospem-se em discursos, pássaros teimam em cantar, a
fumaça dos carros acinzentam o céu, pedestres observam o relógio e o mundo gira
dentro de vinte e quatro horas desejando que o tempo fosse mais longo.
Permaneço
incólume. Será?
Um comentário:
Essa natureza é quase etérea, esbarrando apenas no que temos de impalvável, nossa subjetividade, nosso envolvimento involuntário com o lado de fora de nossas razões: o outro. E tão paradoxais, nosso lamento e salvação, por vezes nossa própria matéria entre o passado e o futuro, nossa essência pra que algo sempre seja dito.
Acredito que também somos o que vai de nós até o outro.
Adorei!
=***
Te amo
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