sun_smile_by_maruchanhoan-d48l1 |
E
onde se escondem as verdades? Sob os lençóis, embaixo do travesseiro ou no
sorriso falso da fotografia? Aprendemos desde sempre a maquiar nossas
descobertas, a encobrir nossos sentimentos e angústia tão bem, que depois mal
sabemos como é dizer a verdade sobre nós mesmos.
E
onde foi que eu me perdi? Desci na estação errada, não era tempo ainda. Parece
que nunca se está realmente preparado para as guinadas que a vida dá. Por mais
que exista a pressa, hora ou outra a própria vida obriga que pare e é
impossível não refletir...
A
passos cotidianos a vida vai se entornando pelo chão, como se fosse uma
essência, perfume que deixa o corpo e quando se percebe já não há mais ali
nenhum sinal. Embora ainda seja possível lembrar bem de como era o cheiro, ele
se dissipa e o que fica é a impressão de que aquele cheiro nunca esteve
realmente impregnado na pele, mas apenas na imaginação.
A vida
vivida parece cada vez mais um sonho remoto, vista por uma lente cada vez mais
embaçada. É como se a existência fosse um caminhar pelo túnel escuro, onde só
há luz no lugar em que se pisa o resto atrás e a frente é só escuridão. Resta
apenas uma leve impressão de que algum dia se passou por ali. Difícil é saber
se a extinção dos detalhes que habitam a nossa memória é crueldade ou alívio.
É mais
impossível ainda pesar o resultado final, saber se existiria algum pedaço que
merecesse ser modificado, arrancado, extinto... Parece-me que tudo se encaixa,
toma a forma e já era. Não há tempo para retornos, revisões ou reparações. Está
lá a fenda marcada, a hora passada e os momentos não vividos não têm mais
chance, serão eternamente sonhos a mil léguas submarinas.
E a
vida está no retrato que envelhece, na tecnologia que fica obsoleta. Ficou
grudada ali naqueles gestos, naqueles sons, naquelas impressões, naqueles dias
de sol e chuva. Na primavera dos anos dourados que não voltam mais. Nos
janeiros e dezembros que embora tenham sempre os mesmos nomes jamais serão
iguais aos de antigamente.
Ananda
Sampaio***
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