28 de junho de 2013

À Deriva

Mas, me diga meu caro, você já ficou à deriva de si mesmo? Perder a propriedade e ir a passos largos para perto do precipício só pra ver aonde tudo isso vai dar?

Caso não o tenha feito, sinto muito por você e por mim. Quem nunca teve conflitos não merece estar vivo. Por mais contraditório que isso possa parecer, só vive quem já duvidou da vida – quem recebeu nas papilas o gosto amargo da existência.

É preciso brigar com Deus para que ele saiba que dói – que te dói olhar para o absurdo todos os dias. Para que Ele saiba que todo o fardo que tu carrega te dói às costas. Do contrário, ele pensará que tu terás vivido no mundo das maravilhas, que tu ainda não aprendeste a olhar para os lados e enxergar além dos sólidos.

Meu caro.

Pode parece que minha voz soe em teus ouvidos como se eu tivesse vivido um milênio. Uma voz cansada demais, tensa demais ou ranzinza demais para tua verdade tão jovem, límpida e de arestas aparadas.

E talvez possa ainda soar sincera, mesma que você não queira admitir. Um dia você abrirá esta carta e seus olhos sobre estas palavras te trarão coisas novas e você terá impressão de que da outra vez que leste, não entendeu o que realmente ela quis dizer. Quem sabe ela nunca terá fim.

E pode ser não seja tarde demais. Larga teu medo e despe teu corpo é pulando no abismo que aprendemos a voar.

A vida é infinita.

Ananda Sampaio***


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