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Por que estou sem meus óculos escuros?
Alguém
sem defesa como eu precisa sempre de óculos escuros. Assim eu poderia sair a
caminhar pela tal avenida sem medo de chorar. O mundo não gosta de quem chora
assim em vias públicas. De quem expõe sua fraqueza ou tristeza assim, na frente
de qualquer um.
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Afinal pra que servem mesmo essas pessoas?
Ninguém
precisa delas, afinal o mundo nem é tão ruim assim e as pessoas não se magoam
mutuamente. No mundo das pessoas que não choram ou ressentem em espaço aberto,
lágrimas são inúteis. Retrato de comoção indevida, inapropriada.
É
como vestir um biquíni no polo sul. Socialmente, indevido. Constrangedor.
Afinal, aprende-se desde criança que constranger os outros é ruim, que verdades
não devem ser ditas. E mostrar sentimentos assim, enfraquece o cimento social.
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Para alguém como eu: inclassificável, indefensável, óculos escuros são as
saídas.
Olhos
retidos na escuridão da lente, no terreno da indiferença. Pra quê incomodar?
Sinta
sua dor sozinha, dizem os olhares, os risos, a indiferença.
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Não seja humano, qualquer coisa vá a missa. Reze aos domingos e tudo isso
passa.
E
se não passar? E se nem a igreja ou o sermão do padre secarem as lágrimas?
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Terei eu de me esconder, me enfiar em algum buraco. Faça tudo, mas não
incomode.
Já
me disse certa vez o dedo estirado.
E
antes de sair sempre lembro, ponha os óculos escuros, garota.
Ananda
Sampaio***
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