As duas conversavam no banheiro.
O sol batia no basculante e anunciava um dia novo em folha chegando, a luz da
manhã, delicada e sutil iluminava tudo sem ferir os olhos. Pois esta é uma
terra de muito sol.
Sobre a pia, vários porta jóias genuínos e outros inventados. Objetos desvirtuados- copos de azeitona, de doce com tampinhas coloridas, objetos disfarçados.
A mais nova disse:
- Vó, esse seu porta jóia é tão
antigo.
Disse enquanto apontava para um
de gesso em formato de presente. Branco, com laços dourados.
A mais velha diz:
- É mesmo, Ana. Esse é antigo, só
lembro dos teus dedinhos magricelas catando meu brincos, anéis... junto com a
Márcia. Vocês eram terríveis.
Disse a senhora, numa voz de lamentação
saudosa. E continuou:
- Às vezes eu encontrava um par
no chão do quarto outro no chão da cozinha, saía catando por aí a bagunça de
vocês. Sinto muito por ter brigado tanto com vocês por isso...
- Mas, Vó a senhora nem brigava
de verdade. Eu nem lembro de alguma vez...
Disse a neta enquanto passava
filtro solar sobre os braços.
- Minha filha, isso tudo que a
gente passa a vida brigando... é tanta besteira. As plantas do terraço que
vocês quebravam jogando bola, o excesso de açúcar no café ou meus brincos,
bolsas e tamancos que vocês brincavam. Por que a gente demora tanto a aprender?
- Porque só sabemos vivendo, Vó.
- Hoje eu percebo como era bom
minha casa cheia de gente. Mesmo que algumas coisas estivessem fora do lugar.
Era bom saber que sempre tinha alguém na porta ao lado. A gritaria de vocês, os
canos quebrados... Quando a gente envelhece percebe que isso tudo foi bom. Faz
parte da vida, minha netinha.
Saíram as duas do banheiro, sorrindo. E o pensamento ficou ali martelando na cabeça daquela moça, a mais novinha.
Ananda Sampaio***
Um comentário:
Que maravilha!
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