15 de maio de 2014

Mudanças


Tudo muda. As paredes que nos cercam, os dias que nos contam ou aparência refletida no espelho.  Vivemos a mudança com medo, sempre tivemos medo. O que vem a seguir é sempre duvidoso, não podemos agarrar entre os dedos.

E quando todas as mudanças dependem e se arcam sobre você, apenas sobre você. É porque agora você é adulto.

Não sei se existe palavra mais feia do que essa. Adulto pra mim, antigamente, dizia respeito às pessoas crescidas, que sabiam de tudo – que tinham controle sobre as suas vidas. Que detinham a capacidade de não se abalarem.

Morremos encolhidos no caixão, quase tão pequenos quanto no momento que chegamos ao mundo e jamais podemos dizer que somos crescidos. Nunca crescemos. Deixamos pra trás a alegria de ser criança e passamos a ser crianças grandes – desajeitadas, imperfeitas. Uma criança grande estranha, talhada em madeira.

Do banco de trás do carro observo minha avó. Ela reclama das dores, do cansaço, da solidão e de como o tempo tem se alongado de uns anos pra cá.

Ela cala. E vejo sua mão estendida, segurando no pegador de cima do carro. Enquanto a outra mão acaricia o braço e se espanta com as veias tão sobressaltadas sob a fina pele.

- Meu Deus, que coisa feia. Meu braço não era assim.

Por um instante, eu vi deslumbrar frente meus olhos a mágica da vida. A mágica da vida que desfaz. Seja o brilho da pele ou as preocupações pequenas.  Olhei pras minhas próprias mãos e consegui lembrar como elas eram antes – e agora cada vez mais parecidas com as de minha mãe.

E com a idade que chega sem avisar, pedir licença ou bater à porta constato que a vida é uma repetição e que nós ainda padecemos das mesmas falhas e erros. Assim como foram os nossos pais e os pais dos nossos pais e mesmo assim ainda temos medo das mudanças.


Mas será mesmo que algo mudou?

Ananda Sampaio
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