Tudo muda. As paredes que nos
cercam, os dias que nos contam ou aparência refletida no espelho. Vivemos a mudança com medo, sempre tivemos
medo. O que vem a seguir é sempre duvidoso, não podemos agarrar entre os dedos.
E quando todas as mudanças
dependem e se arcam sobre você, apenas sobre você. É porque agora você é
adulto.
Não sei se existe palavra mais feia
do que essa. Adulto pra mim, antigamente, dizia respeito às pessoas crescidas,
que sabiam de tudo – que tinham controle sobre as suas vidas. Que detinham a
capacidade de não se abalarem.
Morremos encolhidos no caixão,
quase tão pequenos quanto no momento que chegamos ao mundo e jamais podemos
dizer que somos crescidos. Nunca crescemos. Deixamos pra trás a alegria de ser
criança e passamos a ser crianças grandes – desajeitadas, imperfeitas. Uma
criança grande estranha, talhada em madeira.
Do banco de trás do carro observo
minha avó. Ela reclama das dores, do cansaço, da solidão e de como o tempo tem
se alongado de uns anos pra cá.
Ela cala. E vejo sua mão
estendida, segurando no pegador de cima do carro. Enquanto a outra mão acaricia
o braço e se espanta com as veias tão sobressaltadas sob a fina pele.
- Meu Deus, que coisa feia. Meu
braço não era assim.
Por um instante, eu vi deslumbrar
frente meus olhos a mágica da vida. A mágica da vida que desfaz. Seja o brilho
da pele ou as preocupações pequenas. Olhei pras minhas próprias mãos e consegui lembrar
como elas eram antes – e agora cada vez mais parecidas com as de minha mãe.
E com a idade que chega sem avisar,
pedir licença ou bater à porta constato que a vida é uma repetição e que nós
ainda padecemos das mesmas falhas e erros. Assim como foram os nossos pais e os
pais dos nossos pais e mesmo assim ainda temos medo das mudanças.
Mas será mesmo que algo mudou?
Ananda Sampaio
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