A vida bem que podia ser como aquela cena, aquela das
crianças numa tarde de sol na praia chupando picolé. Um quadro bonito e sutil.
Observo enquanto resmungo pra mim as tarefas do dia seguinte e lamento as
obrigações que abandonei.
Culpa, somos quase sempre movidos por culpa.
A roupa que não está apropriada, o cabelo que está me
envelhecendo, a apostila que tenho que ler, os cães abandonados esperando por
alguma ajuda... Parece que o mundo está sempre esperando. E as tarefas não
acabam, acerta-se de um lado, despenca do outro.
A gravidade que impede o crescimento das asas – os pontos
que encerram as frases e as virgulas que falsamente prolongam. Os acentos não
correspondem ao real. Ajuste daqui, ajustes dali. E sobram mal entendidos.
Andar descalço é melhor do que andar calçado. Os pés doem,
mas não há nunca o medo de perder – porque pés descalços são apenas pés descalços.
E volto a dizer e pedir:
-Um picolé, pés descalços e um sol de fim de tarde na praia.
Ananda Sampaio
Nenhum comentário:
Postar um comentário