Todos nós um dia magoamos alguém e nós também fomos
magoados. Nascemos com lanças empunhadas – conscientes ou não partimos o
coração de alguém. Conscientes ou não partem nosso coração em micro pedaços. E,
mesmo sabendo disso, nunca nos acostumamos. Jamais soa para nós que magoar faz
parte de todos os relacionamentos. Até mesmo do relacionamento que tecemos com
nós próprios. Um dia nossa expectativa sobre quem queremos ser ou quem
pensávamos que seríamos nos atordoa. Pássaro de asa quebrada – que não cabe nos
planos.
Nossa condição, nossa natureza, nosso espírito, nosso corpo
não tem medida. Está sempre a correr, escapulir do que um dia foi designado.
Alguns sentimentos crescem, outros arrefecem e alguns mínguam. Muitas vezes
mesmo que exista resistência, mesmo que exista o sentimento de posse. Nosso
sentimento alça vôo e nos deixa pra trás sem nenhuma explicação.
E não há crime nisso.
A partir de então – a pessoa que o espelho reflete sou eu.
Mas, sou mais ainda aquela que o espelho ignora. Estou no fundo dos olhos do
meu reflexo. Sou, portanto, reflexo do reflexo. Sou só equívoco, graças a Deus.
E, nem sequer isso, determinei.
Os traços que contornam foram delineados, verdades mal
traçadas – retórica contraditória. Porque de várias coisas díspares, opostas,
obsoletas e úteis somos feitos. De papéis soltos a sonhos em desalinho. Somos
todos culpados, somos todos vítimas. Porque nossos corações não suportam as
gaiolas, nossos corações rebeldes produzem um levante a cada dia. Nossos
corações têm asas – e não adianta cortá-las.
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