25 de maio de 2015

O dia que voltei a ouvir Legião Urbana



Passar muito tempo sem ouvir algum artista que você gosta é como adiar o prazer. É como se estivéssemos que esquecer o quanto nos faz bem ou quanto nos afeta, para depois nos reencontrarmos e ter a sensação como se fosse a primeira vez.  E passa um filme, momentos, sensações e um encontro inesperado com a pessoa que um dia eu fui. Com todos aqueles conflitos que durante muito tempo carreguei e uma encarada naqueles que ainda cultivo.

Renato Russo foi a primeira pessoa, depois dos meus pais, a me dizer coisas sinceras sobre o mundo. Inesperadas, malditas e poéticas. Através dos seus versos eu construí percepções e alterei olhares.  Quando criança sempre que vínhamos da cidade que morávamos para Teresina, no toca fita do carro rodava o disco Quatro Estações. Enquanto dormíamos no banco de trás, eu e minha irmã, éramos embaladas pela voz de Renato e pelas suas poesias que se digladiavam entre o divino e profano.

Quando me tornei adolescente tudo mudou. O mundo mudou em trezentos e sessenta graus e eu não sabia mais quem era. De repente, lembrei da voz. E tive a certeza que tudo passa, assim como ele nos diz na música metal contra as nuvens. A irredutibilidade de Renato, a resistência e a coragem de dizer não me moveram e me fizeram ter algo parecido com a fé no meu peito. Muita coisa passou e correu levadas pelo rio que flui debaixo da ponte.

Algumas incertezas, inseguranças e inadequações evaporaram. Foram levadas pelos dias, pelas experiências. Uma bagagem que não faz falta, mas que faz ter certeza daquilo que não quero guardar. E muitas outras coisas ficaram, permaneceram. Afixaram-se em mim e não me percebo mais sem elas. E são esses tais detalhes que são tocados quando dou o play e sai a voz dele.

Dividimos uma coincidência astral da qual me orgulho, somos do mesmo signo: áries. Signo do fogo, da guerra. Mas, teimo em dizer que não gostamos de travar conflitos – somos vítimas de nós mesmos. A guerra significativa está dentro de nós. Quando tentamos direcionar nossas energias e não sermos nossos próprios destruidores, nossa própria ruína.

Renato, amo você!

Ananda Sampaio


Nenhum comentário: