Passar
muito tempo sem ouvir algum artista que você gosta é como adiar o prazer. É
como se estivéssemos que esquecer o quanto nos faz bem ou quanto nos afeta,
para depois nos reencontrarmos e ter a sensação como se fosse a primeira
vez. E passa um filme, momentos,
sensações e um encontro inesperado com a pessoa que um dia eu fui. Com todos
aqueles conflitos que durante muito tempo carreguei e uma encarada naqueles que
ainda cultivo.
Renato
Russo foi a primeira pessoa, depois dos meus pais, a me dizer coisas sinceras
sobre o mundo. Inesperadas, malditas e poéticas. Através dos seus versos eu
construí percepções e alterei olhares.
Quando criança sempre que vínhamos da cidade que morávamos para
Teresina, no toca fita do carro rodava o disco Quatro Estações.
Enquanto dormíamos no banco de trás, eu e minha irmã, éramos embaladas pela voz
de Renato e pelas suas poesias que se digladiavam entre o divino e profano.
Quando
me tornei adolescente tudo mudou. O mundo mudou em trezentos e sessenta graus e
eu não sabia mais quem era. De repente, lembrei da voz. E tive a certeza que
tudo passa, assim como ele nos diz na música metal contra as nuvens. A
irredutibilidade de Renato, a resistência e a coragem de dizer não me moveram e
me fizeram ter algo parecido com a fé no meu peito. Muita coisa passou e correu
levadas pelo rio que flui debaixo da ponte.
Algumas
incertezas, inseguranças e inadequações evaporaram. Foram levadas pelos dias,
pelas experiências. Uma bagagem que não faz falta, mas que faz ter certeza
daquilo que não quero guardar. E muitas outras coisas ficaram, permaneceram.
Afixaram-se em mim e não me percebo mais sem elas. E são esses tais detalhes
que são tocados quando dou o play e sai a voz dele.
Dividimos
uma coincidência astral da qual me orgulho, somos do mesmo signo: áries. Signo
do fogo, da guerra. Mas, teimo em dizer que não gostamos de travar conflitos –
somos vítimas de nós mesmos. A guerra significativa está dentro de nós. Quando
tentamos direcionar nossas energias e não sermos nossos próprios destruidores,
nossa própria ruína.
Renato,
amo você!
Ananda Sampaio
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