22 de julho de 2015

Reparos


Digo não a resistência pacífica. Ela de nada me serve – nem mesmo como dama de companhia. A minha permanência já dura milênios e muito tem me custado. Permanecer fechada a boca que não quer calar. Determinações que ultrapassam meu ser, qualquer pedaço de carne. Músculos que servem para sustentar todas as anomalias que meus olhos se banham ao ver.
Não existem marcas indeléveis. É a dor, sempre a dor que nos visita na calada da noite – rindo do nosso despreparo [chutando cachorro morto].  Enquanto tentamos nos levantar e recompor-nos e novamente se equilibrar sobre o andar bípede, como se nunca tivesse andado de quatro pés. Como se nunca tivesse evaporado a tal dignidade burguesa.
O diabo da noite, do dia e da fogueira que queima. Queima os ossos, invade as vias aéreas e sanguíneas. A dor materializa-se então. Remexendo por dentro, persistindo. Como um verme que suga sem restrições, tudo é sobrevivência.
Sobreviver a si mesmo e todos os infernos que criamos com tanto zelo por dentro, sobreviver à capa que, embora com muitas advertências, acatamos e que nos sufoca. Não podemos dizer não a vida. Nem interromper o fluxo.  “Mas, saber que posso desistir me alivia” – já ouvi dizerem. Desligar, sair do standby, estado que passamos maior parte do tempo.
Drenar o fluxo, construir uma represa, conter no peito a força da água e deixa-se levar por ela. Não me custa muito, parece não custar quase nada. Ar – ficar sem ar. Desequilibrar o corpo. Ruptura da energia da potência de vida.
Vida e morte – lados complementares [é cara ou coroa, mano]. Jogue no lixo seus meio termos e as meias palavras. Porque disso não há quem precise. Pode ser que ouvir down em mim resolva meu problema, resolva minha foça, revolva meu revólver. E assim eu volte a caminhar na corda bamba dos meus dias. Nas voltas loucas que a vida dá. Nas pontes que ligam. Beijos e selos. A tristeza também mente.
 Ananda Sampaio

Nenhum comentário: