17 de outubro de 2008

Talvez

Era de algodão doce o coração da moça. Frágil, espuma clara. Em roupas de renda branca parecia alguém que se sobrepunha ao comum. Tinha inevitáveis meios de ser. Mas, desejava apenas ser de uma maneira apenas, por mais cansativo que fosse. Acordar sempre sendo a mesma. Talvez fosse princesa de conto de fadas, embora tivesse uma certa ojeriza a essa substantivação. Não queria reconhecer em si, embora tivesse, fragilidade alguma.

Talvez fossem os olhos reveladores de uma natureza que nem ela mesma tinha consciência que possuía. Tinha gastado os últimos dias, com os olhos parados, pousados em algum lugar inatingível. Era tristeza, talvez que por algum acontecimento roubara de seus olhos a inquietude quotidiana. E se amontoava assim, junto a outros mistérios mais esse. Talvez fosse culpa do rapaz. Talvez, sendo mais justa fosse culpa do amor e de quem decide amar. E ela definitivamente, decidiu amar o rapaz. Decidiu embora não soubesse nem quando, nem como e nem onde. E ele com algum pequeno grão de gesto, magoou-a. Desferiu nela um golpe pequeno e sórdido até. E ela rendeu-se a um tipo de dor que não se aproxima do desespero.


Uma dor que nem se sente, mas está ali. Não eram os grotescos atos que a pertubavam, mas os pequenos que a aniquilivam. Os pequenos que eram como pequenas facas atravessando o corpo. Eram as coisas que muitas vezes ninguém vê e ninguém se importa. Eram essas as dores que ela escolheu pra si. Que moça tonta, ingênua.


O coração, que é terra de ninguém. Decretava como juiz ferrenho a dor que não sabe a causa,que não na realidade culpado. Era uma dor transviada e descabida. A moça disse ao rapaz impropérios apropriados. E na tempestade que de repente caiu, ela não vestiu capa de chuva, jogou-se e num jogo de azar deixou que água a molhasse. Não quis aconchego, nem um abrigo quentinho. Foi ao cais e se jogou.


A moça boba testou os limites e atestou para o fato de que a dor quando sorvida até a última molécula, não dói. E o rapaz abobalhado com tanta geniosidade, emudeceu-se. E é impossível reverter o processo de amar. É necessário senti-lo e gastá-lo. Porque talvez um dia acabe, entre em crise. E não exista mais moça e nem rapaz.



Ananda Sampaio***


5 comentários:

Cynthia Osório disse...

Talvez a culpa seja do amor,o culpado mais digno de perdão...
Gostei!!

Cynthia Osório disse...

Me emocionou...me inspirou um post.

Anônimo disse...

Amor q texto triste...
fiquei com um aperto no coração!
te amo!
bjo

Anônimo disse...

ah o amor..
vários pontos ein.

:D

Gostei.
=**

jacyara osório disse...

essas palavras, ou sei lá, a moça, falam muito de mim...
mt bonito