3 de outubro de 2008

Um carta




Meu caro,


Receba esta minha carta como quem recebe um tesouro, tão valoroso que é até difícil saber onde guardá-lo. São palavras cúmplices de uma saudade. Sinto sua falta e das suas risadas mórbidas e olhos sempre tão amedrontadores. E eu sei que a cada dia você se perde na minha mente, as lembranças e memórias do que juntos construímos vão morrendo e desaparecendo. Só lembro mais nitidamente das sensações que eu sentia quando compartilhávamos o mesmo espaço. Mas, teu rosto está ficando cada vez menos familiar para mim. Guarda então, esta carta como se você guardasse a mim. E leia estas palavras porque é através delas que agora me mostro pra ti. Procuro sempre utilizar as mais belas, pra que nas tuas noites de insônia quando decidas lembrar de mim, lembre de uma maneira até melhor do que eu realmente sou. Esse é o poder da distância, da falta de contato. A mente relê tudo que passou como se tudo tivesse sido perfeito, nosso cérebro é mesmo otimista. Será que assim ela mente (a mente)? Hoje eu já ri de muitas coisas pelas quais ontem chorei. O tempo transforma os 'ontens' em coisinhas bem fáceis de engolir. As coisas por aqui continuam quase do mesmo jeito, tirando a minha vizinha do lado esquerdo que resolveu pintar o muro de azul e outras coisinhas que se encarregam de ir mudando tudo tão aos poucos que mal percebemos. Sinto falta das nossas conversas e brigas por conta de qualquer coisa da qual discordássemos. Somos mesmo, dois teimosos. E só assim nos suportamos. Espero que você esteja cada vez mais feliz, desejo mesmo. As tardes por aqui estão cada vez mais quentes e os domingos escaldantes.
Mudando de assunto, tenho passado muito tempo numa nostalgia f. da p****! Tudo que lembro desde quando éramos crianças têm me dado vontade de chorar. Será que morrerei em breve? Um medo ds apondera de mim. As coisas e as pessoas de ontem fazem uma falta danada e muitas vezes tenho me afogado num mar de rostos e interrogações.
Será a vida um relembrar sem fim? E uma saudade das horas passadas?Será que a gente muda alguma coisa quando a vida se inscreve na gente? Ás vezes efetivamente acredito que não. São só pontos de vista que mudam, ou somos como areia ao sabor do vento? Quantas dúvidas, não é meu caro? É a idade abrindo as janelas do meu peito. Preciso de amor, urgentemente. Tenho que reacender alguma engrenagem aqui, em mim. Preciso funcionar e caminhar sem medo. Sinto muito medo ultimamente. Mas, preciso agora ir! Saiba que 'a saudade brilha em mim' . De resto, é uma pasmaceira. Abraços e afagos!



Ananda Sampaio***

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