26 de março de 2009

Smells and Tastes








Mais um dia que a chuva chora sobre essa minha cidade tão tropical. O chão frio, as paredes úmidas com um cheiro de mofo, as roupas já irritadas não conseguem secar nunca, não suportam mais o varal. As pessoas escondidas sob seus guarda-chuvas.
Ultimamente tem sido assim. Hoje , eu na minha individualidade resolvi não sair de casa, enquanto todos os outros saíram para por fim encontrar algum sentido. Eu enquanto isso resolvi num veredicto especial manter-me em polvorosa solidão gratuita, difícil de entender?

Ainda não tomei banho e lembrei que hoje é dia de lavar o cabelo. Estou vestida com uma roupa velha e confortável, me alimentando de silêncios. Encostada na parede, sentada.
De repente me perco em lembranças remotas e em pensamentos banais.Observo minha unha do dedão do pé, como ela é obtusa! Lembro que sempre detestei meu pé, um sorriso satírico de canto de boca surpreende meu rosto.

Tento recordar o que comi no almoço, sobre o que falei hoje...ás vezes eu gosto de testar meu cérebro sobre coisas corriqueiras para não ter que gastá-lo sempre com reflexões tão sérias e profundas.
Sou difícil até mesmo na minha própria compreensão. Tento saber porque gosto tanto de jambo e por que sempre detestei beterraba... para falar a verdade meu paladar sempre foi muito preconceituoso.


Sorrio.
Fecho os olhos.
Relaxo e deixo livre minha mente.
Esvazio.
De repente um campo, com um horizonte similar àqueles de desenhos infantis. Os pés estão descalços (eu sinto), eu corro, vento no rosto... flores e cores e sol. Sensação gostosa de calor, pele queimando.


Tudo some. Meu avô me sorri, Flavinha beija meu rosto. Minha primeira professora, Brasília e suas retas tão orgulhosas, amigos, cavalos, fazenda, riacho, meus cachorros correm e meu amor aqui dentro pulsa... cheiros e gostos tumultuam meus sentidos. Sou feliz e de solavanco triste.


Minha vida passa ali , diante de mim.
Minha alma estremece.
E eu ainda existo.

Ananda Sampaio***

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