Uma humilde homenagem a Mrs Dalloway e a Virgínia Woolf.
Senhorita K sentia-se pairando no ar. Imaginava-se inúmeras vezes tal qual uma pluma lançada de um prédio altíssimo, e planejava incansavelmente sua queda. Queria ao menos uma vez sentir o chão a seus pés. Mesmo que para isso fosse necessário inicialmente colidir-se. Inocuamente acreditava que iria resistir.
Talvez estivesse mais para sobrevivente. Srta K tinha um rosto ânguloso, com protuberantes maçãs, cabelos negros escorridos e tinha olhos, que mais se assemelhavam a guardiões. Eram eles que guardavam todos os seus segredos, jamais a traiam. Eram janelas trancafiadas.
Senhorita K era boa atriz. Sorria nas fotos, gargalhava nas festas e sempre tinha comentários engraçados a fazer. Era dessas pessoas divertidas, mas não menos solitária.
Só ela sabia que já tinha tentado tantas vezes encontrar no mundo algum lugar que lhe coubesse, e que no qual se sentisse confortável.
Mas ainda não tinha encontrado este espaço, esta órbita. Planava sobre uma supra-realidade que criara para si, na tentativa óbvia de fuga.
Deitava-se, fechava os olhos e trazia a mente uma lembrança que lhe agradava bastante.
A piscina do clube onde passara boa parte da infância, quando se cansava das brincadeiras mergulhava no fundo, sentava-se no azulejo azul e sentia tanto prazer inominável com aquele silêncio aquoso, profundo e pulsante. Nada se movia, os sons abafavam-se e lá estava ela. Feliz com o vazio do mundo.
Deitava-se, fechava os olhos e trazia a mente uma lembrança que lhe agradava bastante.
A piscina do clube onde passara boa parte da infância, quando se cansava das brincadeiras mergulhava no fundo, sentava-se no azulejo azul e sentia tanto prazer inominável com aquele silêncio aquoso, profundo e pulsante. Nada se movia, os sons abafavam-se e lá estava ela. Feliz com o vazio do mundo.
Estava lá, de volta.
E pensava:
- Meu Deus, há no mundo algo mais bonito do que os cavalos? Como são belas tais criaturas.
E eram assim os pensamentos que lhe surgiam. Soltos, ela os resgatava do ar, catava-os dentro de si. Gostava de constatar coisas bem óbvias.
E naquele momento era feliz. Afinal, gostava do vazio declarado, desse vazio que não se disfarça. Mas, com o qual é possível refestelar-se. Não é o vazio das festas, das convenções. É um vazio desejado, como uma anestesia.
E naquele momento era feliz. Afinal, gostava do vazio declarado, desse vazio que não se disfarça. Mas, com o qual é possível refestelar-se. Não é o vazio das festas, das convenções. É um vazio desejado, como uma anestesia.
Lembrava-se do quanto tinha desejado na infância um pônei. Lembrava-se do quanto achava incrível existir um cavalo em miniatura. Como se por alguns milhões de anos atrás o mundo fosse habitado apenas por crianças. Sentia que eram aquelas miniaturas criaturas mágicas.E tentava comunicar-se com eles.
Ela sabia bem quem era. Mas, sabia também que ao mundo nada devia.
E que este lugar enorme, infinito que denominamos mundo não lhe cabia – por maior que fosse.
Queria outro, um que por vezes remota, habitava. Um que tinha escolhido e que tinha suas medidas. Onde todos os sapatos mediam 36.
E que este lugar enorme, infinito que denominamos mundo não lhe cabia – por maior que fosse.
Queria outro, um que por vezes remota, habitava. Um que tinha escolhido e que tinha suas medidas. Onde todos os sapatos mediam 36.
Srta k, desejava colidir-se. Não tinha medo dos impactos, dos choques ou de cara feia. Era corajosa. E sabia que quem tem um mundo tão vasto dentro de si, ora ou outra deseja a queda.
Srta K sabia que tinha apenas que levantar da cama e dá o primeiro passo, o dia sempre começa com os pés indo de encontro ao chão.
E, por hoje, pelo menos por hoje. Ela os levaria mais uma vez de encontro às pantufas.
E tinha certeza que levava uma dor maior que todas as dores do mundo.
E o que a matava eram as horas - intermináveis. As horas que estão sempre a suceder o próximo momento.As horas que nos salvam e nos perdem. As horas que maltratam e purificam. Era esta interminável contagem que massacra, que pisoteia e escarnece.
E, por hoje, pelo menos por hoje. Ela os levaria mais uma vez de encontro às pantufas.
E tinha certeza que levava uma dor maior que todas as dores do mundo.
E o que a matava eram as horas - intermináveis. As horas que estão sempre a suceder o próximo momento.As horas que nos salvam e nos perdem. As horas que maltratam e purificam. Era esta interminável contagem que massacra, que pisoteia e escarnece.
E Srta K levantou-se e foram tantas forças usadas para que se pusesse de pé...
Sentia-se como se fosse um edifício erguido por uma única mão de sol a sol. E pensou:
-Sou pluma, mas jamais desejo virar rocha
Ananda Sampaio***
2 comentários:
Anandinha ótimo texto a senhorita K, dará origem a um livro? Acredito que seja muito merecida uma obra dedicada a tal moça... talentos são dons divinos!!!! Parabéns pelo seu... ADOREI! (Juzinha-Lucaia)
Oi, Ananda
Adorei a carinha do seu Blog.
A Convidada é em homenagem a Simone de Beauvoir?
Voltarei mais vezes.
Bjs
Mari
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