Joana ama Carlos. Não há como negar, desdizer. Fato consumado é que Carlos teve o coração de Joana. Carregava-o no peito como um pingente, uma jóia – que serve mais aos olhos alheios. Contornado de um orgulho, de uma desfeita. Como uma criança mimada que tem mil brinquedos e não vê graça em nenhum.
Joana sofria de todos os infortúnios de uma relação em que 1 ama por 2. Em que um carrega o peso de uma relação desigual, injusta.
Joana tinha olhos voltados sempre e apenas para uma direção: onde Carlos estivesse. E foram mil decepções, mares de lágrimas e rosários de dor. Mas, Joana estava lá insistentemente.
Um dia como outro qualquer amanhece. E no primeiro pensamento de Joana não está Carlos. Sem perceber Ela levanta e acredita ser aquele mais um dia normal, comum.
Mas, algumas mudanças invisíveis conspiram a favor dela.
Mas, algumas mudanças invisíveis conspiram a favor dela.
Sussurros silenciosos ganham força, intensidade e verdade.
O amor que Joana abriga no peito está murcho. Quase morto. E de repente, Carlos não é mais oxigênio.
E o dia fez-se noite para Carlos – ele batia o pé, fazia bico, esperneava. Mas, ela tinha olhos fixos, lábios travados de amargura e certeza. E não se compadeceu dele. Acenou um adeus ensaiado. E partiu.
E o dia fez-se noite para Carlos – ele batia o pé, fazia bico, esperneava. Mas, ela tinha olhos fixos, lábios travados de amargura e certeza. E não se compadeceu dele. Acenou um adeus ensaiado. E partiu.
Criou asas – etéreas, cristalinas, com nervuras idênticas as asas de uma libélula. E voou para a América – aquela ‘dos mares nunca dantes navegados’, a de Camões. Voou para aquela terra desconhecida, onde diziam habitar monstros.
Voou e lá encontrou anjos, libélulas, pássaros.
Libertou-se da tortura do amor desavisado, que assim como chega também parte.
Voou e lá encontrou anjos, libélulas, pássaros.
Libertou-se da tortura do amor desavisado, que assim como chega também parte.
Voou distante. Para onde seus pés encontrariam terra firme sempre que necessário. Joana deixou Carlos como quem deixa uma ditadura – onde a injustiça impera para favorecer sempre ao imperador.
Hoje tudo que Carlos quer é alguém, um alguém em quem possa se escorar. E esse alguém pode ser a sombra de Joana, ou a idéia de quem é Joana.
Hoje tudo que Carlos quer é alguém, um alguém em quem possa se escorar. E esse alguém pode ser a sombra de Joana, ou a idéia de quem é Joana.
Ele deseja desesperadamente um pedaço de Joana. Apenas uma réstia. Porque verdade é que ela era bem mais que um troféu. Era a esperança, o idílio e todas as certezas que Carlos nem sabia que tinha, ou melhor, que teve. E este desencontro é apenas um grão, perante tanto desencontros que a vida reserva aos simples mortais que nascem e morrem no infortúnio de amar.
Ananda Sampaio***
Um comentário:
80% da minha vida está neste texto!
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