9 de agosto de 2011

Um dia na vida de uma tal Joana



                  




 "I won't let you close enough to hurt me" Adele


Joana ama Carlos. Não há como negar, desdizer. Fato consumado é que Carlos teve o coração de Joana. Carregava-o no peito como um pingente, uma jóia – que serve mais aos olhos alheios. Contornado de um orgulho, de uma desfeita. Como uma criança mimada que tem mil brinquedos e não vê graça em nenhum.

Joana sofria de todos os infortúnios de uma relação em que 1 ama por 2. Em que um carrega o peso de uma relação desigual, injusta.


Joana tinha olhos voltados sempre e apenas para uma direção: onde Carlos estivesse. E foram mil decepções, mares de lágrimas e rosários de dor. Mas, Joana estava lá insistentemente.

Um dia como outro qualquer amanhece. E no primeiro pensamento de Joana não está Carlos. Sem perceber Ela levanta e acredita ser aquele mais um dia normal, comum. 


Mas, algumas mudanças invisíveis conspiram a favor dela.

Sussurros silenciosos ganham força, intensidade e verdade.

O amor que Joana abriga no peito está murcho. Quase morto. E de repente, Carlos não é mais oxigênio. 


E o dia fez-se noite para Carlos – ele batia o pé, fazia bico, esperneava. Mas, ela tinha olhos fixos, lábios travados de amargura e certeza. E não se compadeceu dele. Acenou um adeus ensaiado. E partiu.

Criou asas – etéreas, cristalinas, com nervuras idênticas as asas de uma libélula. E voou para a América – aquela ‘dos mares nunca dantes navegados’, a de Camões. Voou para aquela terra desconhecida, onde diziam habitar monstros. 


Voou e lá encontrou anjos, libélulas, pássaros. 


Libertou-se da tortura do amor desavisado, que assim como chega também parte.

Voou distante. Para onde seus pés encontrariam terra firme sempre que necessário. Joana deixou Carlos como quem deixa uma ditadura – onde a injustiça impera para favorecer sempre ao imperador. 


Hoje tudo que Carlos quer é alguém, um alguém em quem possa se escorar. E esse alguém pode ser a sombra de Joana, ou a idéia de quem é Joana.

Ele deseja desesperadamente um pedaço de Joana. Apenas uma réstia. Porque verdade é que ela era bem mais que um troféu. Era a esperança, o idílio e todas as certezas que Carlos nem sabia que tinha, ou melhor, que teve. E este desencontro é apenas um grão, perante tanto desencontros que a vida reserva aos simples mortais que nascem e morrem no infortúnio de amar.

Ananda Sampaio***

Um comentário:

Anônimo disse...

80% da minha vida está neste texto!