11 de junho de 2013

Uma tal Índia


O acordar foi instantâneo. A alma acabara de assentar ao corpo dela e não suportando a descarga de energia o corpo físico levantou-se e decidiu que o dia acabava de começar.

Ainda atônita Maria, pegou a caneca no armário e sentou-se como de costume. Uma perna suspensa na cadeira, enquanto a outra servia para assegurar o contato com o mundo, o pé no chão.

Estava na Índia. Em sonho. Do outro lado do mundo – naquele continente distante daqui.

- Não era, óbvio, a Índia real. Mas uma criada pela minha mente provinciana. Mulheres de roupas brilhantes e barulhentas. Enquanto elefantes, divinamente belos, passeavam pela rua. Como se tivessem consciência. Soubessem que pertenciam ao cenário urbano. Sem senhorios sobre o dorso. Caminhavam como caminhantes, como citadinos.

Sentiu falta de ter alguém, afinal acordara com uma hora de crédito, teria tempo para contar e sorrir. E depois tentariam encontrar razão pra tal sonho. Algum resquício do dia – alguma imagem que ficou guardada sem pretensão no fundo da mente. E durante o sono, o mar revolto trouxe lá do fundo aquela figura.

- Se algum dia for mesmo a tal Índia talvez me decepcione. Já a tenho aqui, e tocou acima da sobrancelha.

A irmã estava no sonho também, lembrou-se. Segurava a câmera enquanto Maria pousava com as duas dançarinas. Sentiu saudade. E teve uma vontade sincera de ter mesmo vivido aquele momento. A irmã, Hilda, fazia tempo que a via.
Eram só as duas...

- Como antigamente, pensou.

E enquanto a câmara desenhava com a luz a imagem ela só pensava em tocar um bicho daqueles.

- Geralmente as pessoas vão à Índia em busca de alimento para a alma. E tudo que eu queria era tocar um elefante. Esse me pareceu o caminho mais bonito pra perto de Deus.


Os pés tocaram no chão. 

Ananda Sampaio

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