O acordar foi instantâneo. A
alma acabara de assentar ao corpo dela e não suportando a descarga de
energia o corpo físico levantou-se e decidiu que o dia acabava de começar.
Ainda atônita Maria, pegou a
caneca no armário e sentou-se como de costume. Uma perna suspensa na cadeira,
enquanto a outra servia para assegurar o contato com o mundo, o pé no chão.
Estava na Índia. Em sonho. Do
outro lado do mundo – naquele continente distante daqui.
- Não era, óbvio, a Índia
real. Mas uma criada pela minha mente provinciana. Mulheres de roupas
brilhantes e barulhentas. Enquanto elefantes, divinamente belos, passeavam pela
rua. Como se tivessem consciência. Soubessem que pertenciam ao cenário urbano.
Sem senhorios sobre o dorso. Caminhavam como caminhantes, como citadinos.
Sentiu falta de ter alguém,
afinal acordara com uma hora de crédito, teria tempo para contar e sorrir. E depois tentariam encontrar razão pra tal sonho. Algum resquício do dia
– alguma imagem que ficou guardada sem pretensão no fundo da mente. E durante o
sono, o mar revolto trouxe lá do fundo aquela figura.
- Se algum dia for mesmo a
tal Índia talvez me decepcione. Já a tenho aqui, e tocou acima da sobrancelha.
A irmã estava no sonho
também, lembrou-se. Segurava a câmera enquanto Maria pousava com as duas
dançarinas. Sentiu saudade. E teve uma vontade sincera de ter mesmo vivido
aquele momento. A irmã, Hilda, fazia tempo que a via.
Eram só as duas...
- Como antigamente, pensou.
E enquanto a câmara
desenhava com a luz a imagem ela só pensava em tocar um bicho daqueles.
- Geralmente as pessoas vão à
Índia em busca de alimento para a alma. E tudo que eu queria era tocar um
elefante. Esse me pareceu o caminho mais bonito pra perto de Deus.
Os pés tocaram no chão.
Ananda Sampaio
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