17 de março de 2014

Sobre as pessoas que nos completam

O meu amor por Elis Regina passou da minha mãe para mim. Ouço Elis desde criança, mas só comecei a compreendê-la aos meus vinte e poucos anos.  Quando a li a biografia de Regina Echeverria, a única realmente boa sobre Elis, foi que compreendi a grandiosidade da artista. Especialmente como figura social, cantora e mulher.

Hoje sou admiradora inconteste de Elis. Pela sua grande capacidade expressiva e ousadia. Elis é dessas pessoas que tudo que se diz sobre é redundante, repetitivo. Porque sua presença já foi tão exaltada que não há mais adjetivos para descrevê-la.  Queria muito ter visto Elis no palco, dizem que seu desempenho era inesquecível.

Eu amo Elis, porque ela é visceral. Ela sofre, ela grita e se exalta – uma artista sem limites. Que fez da sua vida sua arte de tal forma que as duas se confundem e hoje é difícil destacá-las. Como ela própria disse: “só canto o que entendo”.  Sou fascinada pelas intérpretes femininas, isso devo a Elis. Ela me ensinou quanto é difícil ser mulher com M maiúsculo.

Como é preciso ser cidadã, brigar pelos seus direitos e muitas vezes ser entendida como intransigente. Faz parte do processo da vida. Elis liderou o movimento para que a Associação de Músicos incluíssem os cantores também como músicos – afinal, como ela dizia: “meu instrumento é minha garganta.”.

Ás vezes evito ouvi-la. Parece uma daquelas conversas dolorosas que temos com a melhor amiga – quando descortinamos muitas verdades que tentamos jogar para debaixo de tapete.  Afinal, mostrar-se assim não é fácil, temos receio do que os outros vão pensar ou usar contra nós mesmos adiante.

Sou grata que hoje exista Maria Rita, filha de Elis que demorou muito a se mostrar cantora por medo, ser filha de um mito não é fácil. Jamais seria. Sou feliz porque Maria Rita não é Elis, mas sem dúvida, demarca a presença da mãe que parece dizer: “estou aqui”. Seja por benção da genética ou espiritual – o elo existe é perceptível. Quiçá um presente.

Queria abraçar Elis, apenas. Em silêncio, ela já me disse tudo. O entendimento é claro. Talvez eu dissesse obrigada.


Ananda Sampaio***

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