O meu amor por Elis Regina passou
da minha mãe para mim. Ouço Elis desde criança, mas só comecei a compreendê-la
aos meus vinte e poucos anos. Quando a
li a biografia de Regina Echeverria, a única realmente boa sobre Elis, foi que
compreendi a grandiosidade da artista. Especialmente como figura social,
cantora e mulher.
Hoje sou admiradora inconteste de
Elis. Pela sua grande capacidade expressiva e ousadia. Elis é dessas pessoas
que tudo que se diz sobre é redundante, repetitivo. Porque sua presença já foi
tão exaltada que não há mais adjetivos para descrevê-la. Queria muito ter visto Elis no palco, dizem
que seu desempenho era inesquecível.
Eu amo Elis, porque ela é
visceral. Ela sofre, ela grita e se exalta – uma artista sem limites. Que fez
da sua vida sua arte de tal forma que as duas se confundem e hoje é difícil destacá-las.
Como ela própria disse: “só canto o que entendo”. Sou fascinada pelas intérpretes femininas,
isso devo a Elis. Ela me ensinou quanto é difícil ser mulher com M maiúsculo.
Como é preciso ser cidadã,
brigar pelos seus direitos e muitas vezes ser entendida como intransigente. Faz
parte do processo da vida. Elis liderou o movimento para que a Associação de
Músicos incluíssem os cantores também como músicos – afinal, como ela dizia: “meu
instrumento é minha garganta.”.
Ás vezes evito ouvi-la. Parece
uma daquelas conversas dolorosas que temos com a melhor amiga – quando descortinamos
muitas verdades que tentamos jogar para debaixo de tapete. Afinal, mostrar-se assim não é fácil, temos
receio do que os outros vão pensar ou usar contra nós mesmos adiante.
Sou grata que hoje exista Maria
Rita, filha de Elis que demorou muito a se mostrar cantora por medo, ser filha
de um mito não é fácil. Jamais seria. Sou feliz porque Maria Rita não é Elis,
mas sem dúvida, demarca a presença da mãe que parece dizer: “estou aqui”. Seja
por benção da genética ou espiritual – o elo existe é perceptível. Quiçá um
presente.
Queria abraçar Elis, apenas. Em
silêncio, ela já me disse tudo. O entendimento é claro. Talvez eu dissesse
obrigada.
Ananda Sampaio***
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