Usada, estirada, espichada, aberta ou fechada. Quase
sem A, quase sem O. Roma de trás pra frente – as outras são bárbaras.
Esgarçada, desbotada, ressequida, esturricada – amarelada. Sem remédio, sem
hora, sem dia.
Banalizada, bandida.
Ressignificada, cansada.
É a palavra amor.
Quase
sem M ou R. Dita por qualquer boca de peito vazio. Dita sem dor ou sem riso.
Amor, líquido, sem cor, sem cheiro.
Amor, palavra quase doente.
Domesticada.
Amor ali, acolá. Como se nascesse
de qualquer chão, como se brotasse de quaisquer coração.
Amor, palavra quase morta. Embora
seja fácil encontrá-la por aí.
Amor, palavra sem som. De tão comum
já não surpreende, já não enlouquece.
O amor virou são, meu Deus. Que
mundo louco!
Desmantelou-se. Ai de Julieta, ai
de Romeu.
Amor está sem drama, corre nos
coloridos campos do qualquer.
Não está mais nos olhos da
columbina, pulando triste o carnaval dos dias de ressaca sem fim.
O amor não mais adoece. O amor
acabou-se e a palavra morreu na boca, na boca que disse sem senti-lo, como se fosse bom dia, como se fosse boa tarde.
Sem cerimonia, pompas ou coração saltitante.
Ananda Sampaio
***
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