As linhas tênues que me cruzam,
me repartem, e, por fim, me parto até me parir. Sou gêmea de mim mesma e danço
com pés descalços o chão frio da vida que não se sabe. Não se pode crer no
amanhã ou no depois. A vida passa como uma canção de Cartola. Aquele lindo
violão, aquela voz e a sensação de que precisamos ouvir mais. Sempre mais
poesia, copo cheio, por favor.
E é assim que as luzes num jogo
de claro e escuro me dizem. Nem sempre o que se vê é o que é. E quase sempre o
que não vemos fica guardado dentro de nós, olhos internos. E tateando os dias, vou
à busca da verdade. A verdade que muda de fantasia e nunca é como acreditamos.
São réstias de luz, rostos
disformes e palavras silenciosas as únicas ferramentas para encontrar a verdade.
E quando penso que desisti, lá estou metendo o dedo na ferida, tentando
iluminar o fundo do poço. E só o que vejo é a água tremeluzir e a luz que me
reflete numa sombra sombria me faz crer que existe algo, lá em embaixo, mas
existe.
Na corda bamba da vida eu danço
samba. E às vezes até ensaio saltos. A vida cambaleia e nesse momento coloco em
prática meus passos de balé, aprendi a dançar numa aula que nunca freqüentei,
mas que me freqüentou.
Posso passar dias permeados de
agulhas sem que eu sinta, numa anestesia estratégica. Porque o corpo já não me
prende, aprendi que as asas que não enxergo, aos invés de fora estão dentro.
Dentro da minha gaiola há a única maneira de fugir, dentro da minha gaiola há a
minha própria chave.
E eu escolho até quando preciso
me prender.
Ananda Sampaio
***
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