25 de julho de 2014

Linhas



As linhas tênues que me cruzam, me repartem, e, por fim, me parto até me parir. Sou gêmea de mim mesma e danço com pés descalços o chão frio da vida que não se sabe. Não se pode crer no amanhã ou no depois. A vida passa como uma canção de Cartola. Aquele lindo violão, aquela voz e a sensação de que precisamos ouvir mais. Sempre mais poesia, copo cheio, por favor.

E é assim que as luzes num jogo de claro e escuro me dizem. Nem sempre o que se vê é o que é. E quase sempre o que não vemos fica guardado dentro de nós, olhos internos. E tateando os dias, vou à busca da verdade. A verdade que muda de fantasia e nunca é como acreditamos.

São réstias de luz, rostos disformes e palavras silenciosas as únicas ferramentas para encontrar a verdade. E quando penso que desisti, lá estou metendo o dedo na ferida, tentando iluminar o fundo do poço. E só o que vejo é a água tremeluzir e a luz que me reflete numa sombra sombria me faz crer que existe algo, lá em embaixo, mas existe.

Na corda bamba da vida eu danço samba. E às vezes até ensaio saltos. A vida cambaleia e nesse momento coloco em prática meus passos de balé, aprendi a dançar numa aula que nunca freqüentei, mas que me freqüentou.

Posso passar dias permeados de agulhas sem que eu sinta, numa anestesia estratégica. Porque o corpo já não me prende, aprendi que as asas que não enxergo, aos invés de fora estão dentro. Dentro da minha gaiola há a única maneira de fugir, dentro da minha gaiola há a minha própria chave.


E eu escolho até quando preciso me prender.


Ananda Sampaio
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