15 de julho de 2014

Minha Janela



Da minha janela eu ergo o outro. Da minha janela toco o intocável e vejo o relógio de Dalí de cabeça para baixo. Da minha janela constato minha ausência. Da minha janela, salto. E logo mais me amparo.

Da minha janela sem bordas ou dimensões adivinho o mundo. Invento a realidade. Me dou conta da minha cegueira. Da minha janela vejo a manhã nascer, recém nascida com ares macios e nebulosos.

Da minha janela enxergo o horizonte e a linha que se vê é apenas um infinito campo de combinações. Da minha janela, rio que desce sobre os tortuosos caminhos adiante. Sempre adiante.

Da minha janela, choro e lamento o indizível. Me calo e espero. Da minha janela assisto ao espetáculo do mundo que não criei (será?). Da minha janela construo meus palpites, desfaço minhas verdades.

Da minha janela enxergo um resto de mim a dançar sob domínio do vento. Da minha janela aceno, faço sinal de fogo e finalmente me calo; já disse tudo. Ou quase tudo, meu caro.

Da minha janela o mundo me toca. E eu finjo que toco o mundo.

Da minha janela eu vi uma paisagem sem moldura. Eu me vi e me espantei.

Da minha janela eu vi, vejo e verei. Mas nunca, nunca sei.


Porque faço da minha janela mãos, olhos, boca
e coração.

Ananda Sampaio
***

Nenhum comentário: