Não saberia falar sobre os
dias que se passaram. Afinal depois de retidos na memória tornam-se borrões,
rabiscos do instante, do momento. Sinto saudade de quem eu era e uma vez, numa
noite qualquer, demos as mãos e nos
despedimos. Vez ou outra vejo ressurgir em algum caco da minha alma uma sombra
turva de quem nunca me deixou: a saudade.
É a saudade que me fez fechar os
olhos inesperadamente e forçar a memória a lembrar o que ela guardou em alguma
gaveta enferrujada do meu subconsciente. Exercite, exercite. Eu digo em voz
alta e minha alma se reparte para depois tomar forma mais uma vez. Nem sei até
quando será assim.
Até quando é preciso sentir o
vento e perceber que junto com ele corre também o tempo. O tempo para o qual eu
não existo, mas que existe para mim. Numa relação desigual ele vai desenhando
em minha alma alguns caminhos, algumas janelas e algumas saídas. E vez ou outra
quando me equivoco e tomo o caminho errado, dou de cara com alguém, alguém que
esteve em mim.
Porque são esses os meus lugares,
onde inscrevo minhas impressões. Onde arregimento meus acordes e onde eu habito
sem medo. Vou a fundo mesmo jamais enxergando o chão. Porque existem viagens,
especialmente as desvairadas, sem passagem de volta.
Há apenas o eterno retorno, mais
uma vez.
Ananda Sampaio
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