A felicidade é uma velha bêbada,
pensei. Essa frase se soergueu em minha mente enquanto vinha dentro do ônibus.(Andar de ônibus foi uma das
sensações de maior liberdade e medo que senti. Andar de ônibus me ensinou a
disfarçar o medo, me ensinou um pouco sobre como manter as aparências em
situações de pânico).
Enquanto estava dentro daquele
enorme transporte consegui pensar sobre as coisas práticas e não práticas do
meu dia, ou melhor, dos meus dias. O vai e vem das pessoas transmitia sempre a
sensação de controle, de fluxo, de máquina com engrenagens bem ajustadas. E,
assim, eu podia relaxar rememorar minhas tarefas, pensar em frases estranhas,
reavivar sentimentos e me dedicar a sentir. Durante uma época a paixão
circulava pelas minhas veias e meus olhos enxergavam um mundo melhor. De
repente, tudo parecia ter jeito. De repente, tudo poderia florescer.
O meu coração se descolava do
peito a cada batida. Minha caixa torácica não parecia suportar os pulos
apaixonados. E aí essa frase veio: a felicidade é uma velha bêbada. (E nesse
tempo, ainda não conhecia Bukowski). Todo o torpor, todo o álcool com seus
efeitos e dimensões – era a felicidade. Um efeito, uma química, uma leveza...
Mas estava velha demais, cansada demais. Não poderia se perdurar muito naquele
estado. O corpo precisa ser preservado, às vezes, de tanta felicidade.
Mas a felicidade não aceita
conselhos.Ela precisa se expandir, invadir as célular e dissolver-se no universo, como uma estrela no fim. Ela precisa estreitar os laços e marejar os olhos de ondas.
Você é o lugar mais bonito que já pude estar, digitei na mensagem
de texto do celular. Não era S.O.S, mas um SMS. Naquele lugar que me encontrava
jamais necessitaria de socorro. Só de espaço, muito espaço. Espaço onde coubesse
tudo. Tudo aquilo, que parecia nuvem, que parecia bruma... Que parecia pedra e
que parecia sal.
A felicidade é tua mão, e teu olho direito mais baixo quando ri. Pensava
enquanto olhava pra ele nos meus pensamentos.
No mar dos meus dias existia um farol. Num
lumiar ritmado – como um vaga-lume. Estou certa de que era tu. Um farol, como
um olho que abre e fecha, abre e fecha. Como um coração que aperta e solta,
aperta e solta.
O coração que bate dentro da
minha casa é teu. E essa é minha maior fragilidade, meu desengano. A felicidade é uma velha bêbada sorrindo de
histórias repetidas sobre os incontáveis dias de sol e chuva.
Ananda Sampaio
Um comentário:
Se a "felicidade é uma velha bêbada sorrindo..." Quem seria a tristeza?
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