13 de julho de 2015

Janelas que piscam


Conversando sobre o tempo e a chegada dos trinta, uma amiga me disse que sempre fica impressionada com a mudança que o tempo deixa nos olhos. Não estávamos falando das ruguinhas simpáticas que partem os cantos dos olhos em pequenas fatias quando sorrimos, mas daquela pálpebra que cai sobre o globo, cada vez mais cansada.

Pesquisei na internet e descobri que, em média, piscamos 25 mil vezes por dia. Nervos conectados, estímulos visual e sensitivo. Consegui então, compreender melhor aquele velho ditado que diz que os olhos são as janelas da alma. Os olhos são a janela da vida, através deles contemplamos as expressões, nos surpreendemos com nosso reflexo (cada vez mais distante) no espelho. Piscamos, piscamos e assim a vida segue e, de repente, a banda já passou. Espalhamos o líquido lacrimal por todo o globo ocular.

Minha mãe me disse uma vez: “Filha é duro ver nossos ídolos envelhecerem”. Assim como aquelas janelas velhas, da casa da vovó, que de tanto abrir e fechar, terminam meio capengas, caídas para o lado, tortas de tanto movimento repetitivo. Assim cansamos nossos olhos, o esforço repetitivo vai arrancando aquela resistência que as engrenagens novas possuem. Aquela força que tenta conter a força do repuxo. Assim como o corpo termina cedendo à força da gravidade e os músculos do coração cansam-se de contrair-se.

Olho para o casal de amigos já com filhos. Vejo a criança se contorcendo em birra, vem a mãe e tapa a boca que berra. Sorvete, bico, bombom ou peito. O pequeno ser está quase satisfeito, mas o importante: a boca calou-se. Silêncio, todos agora só querem silêncio. 

Reagimos até o último instante. Braços teimam em procurar outros braços, as mãos outras mãos... Olhos são os detetives do mundo, entrelaçam-se com outros olhos, são até capazes de beijar um rosto. De dizer sim ou de gritar não. Os olhos podem conter todo o desespero calado que guardamos. Por isso eles piscam, por isso eles fecham. Porque eles libertam e guardam. 

Ananda Sampaio

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