Conversando sobre o tempo e a
chegada dos trinta, uma amiga me disse que sempre fica impressionada com a
mudança que o tempo deixa nos olhos. Não estávamos falando das ruguinhas
simpáticas que partem os cantos dos olhos em pequenas fatias quando sorrimos, mas daquela pálpebra
que cai sobre o globo, cada vez mais cansada.
Pesquisei na internet e descobri
que, em média, piscamos 25 mil vezes por dia. Nervos conectados, estímulos
visual e sensitivo. Consegui então, compreender melhor aquele velho ditado que
diz que os olhos são as janelas da alma. Os olhos são a janela da vida, através
deles contemplamos as expressões, nos surpreendemos com nosso reflexo
(cada vez mais distante) no espelho. Piscamos, piscamos e assim a vida segue e,
de repente, a banda já passou. Espalhamos o líquido lacrimal por todo o globo
ocular.
Minha mãe me disse uma vez: “Filha
é duro ver nossos ídolos envelhecerem”. Assim como aquelas janelas velhas, da casa da vovó, que de tanto abrir e fechar, terminam meio capengas, caídas para o lado, tortas de tanto movimento repetitivo. Assim cansamos nossos olhos, o esforço repetitivo vai arrancando aquela resistência que as engrenagens novas possuem. Aquela força que tenta conter a força do repuxo. Assim como o corpo termina cedendo à força da gravidade e os músculos do coração cansam-se de contrair-se.
Olho para o casal de amigos já com filhos. Vejo a criança
se contorcendo em birra, vem a mãe e tapa a boca que berra. Sorvete, bico, bombom
ou peito. O pequeno ser está quase satisfeito, mas o importante: a boca
calou-se. Silêncio, todos agora só querem silêncio.
Reagimos até o último instante. Braços teimam em procurar outros braços, as mãos outras mãos... Olhos são os detetives do mundo, entrelaçam-se com outros olhos, são até capazes de beijar um rosto. De dizer sim ou de gritar não. Os olhos podem conter todo o desespero calado que guardamos. Por isso eles piscam, por isso eles fecham. Porque eles libertam e guardam.
Ananda Sampaio
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