4 de agosto de 2015

Engavetado


Os laços são os mesmos: furtivos. Seiva que alimenta todos os dias – que fortalece os nós, que nos comprime em um, ou quase dois. Minhas fragilidades são meus distanciamentos – nelas estão os segredos que não falo, as dores que não proclamo. Ao menos as dores, elas são minhas e não gosto de dividi-las ou publicitar.

Resguardo meu amor e tudo que me alimenta dos flashes, das câmeras, só não das frases. Preciso palavrear o aspecto de tudo que me toca, de tudo que sopra em meus ouvidos e me parece um conselho bom, daqueles raros que vale a pena seguir.

Não utilizo meu sorriso como uma ferramenta qualquer, embora ele seja livre não é frio, não obedece a cálculos e não se encaixa no tempo. Sempre rio nas horas erradas, porque nas horas certas sempre é burocrático demais.

Gosto das gargalhadas, do sorriso em explosão. Daquele tipo que quase extingue meus olhos, transformando-os em linhas curvas e simpáticas. Só deixo ao vento as minhas palavras, as minhas mãos e os meus olhos.

O resto é meu e divido com aqueles que sempre estão perto, gente de carne, osso e ranhuras. Guardo para elas as singelezas do meu ser e também as agudezas do que sou e não me orgulho. Veneno e antídoto – como todo mundo. Sou assim, o mais comum dos seres.  Contudo não sou simples.

Até minhas caretas são tímidas. Surgem quando querem [autônomas] e vão embora muitas vezes sem serem vistas. Tenho caretas que acontecem por dentro.
Minhas outras coisas permanecem guardadas e cheias de pó. Engavetadas, acanhadas e quase ensimesmadas. Quem sabe um dia eu consiga torná-las palavras e elas possam sair por aí vestidas e armadas com os nomes que eu dei. Com as roupas que  vesti.



 Ananda Sampaio

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