Virginia,
Acredito
que não preciso de muito, que não preciso de nada. Confio em você e por isso te
digo límpida e polidamente a verdade sobre mim. Tenho por dentro labirintos,
caminhos e palavras feitas de nuvem – daquelas que sobem e condensam-se no céu.
Ficam lá paradas, pairando sobre minha cabeça e de repente formam cavalos,
pássaros, anjos, faces... Até se dissiparem e já não mais existirem.
E
isso é só um pedaço. Sinto que juntei os estilhaços, mas os buracos feitos a
bala ainda estão aqui, consigo até encaixar neles o indicador. É impossível
livrar-se das lições aprendidas, ficam os vestígios – não há crime perfeito.
Nem contra si próprio.
Eu
nunca consegui vestir a roupa alheia, nunca consegui forçar meu rosto numa
expressão falsamente verdadeira. E esse é meu problema – nunca uso disfarce.
Por isso não saio por aí, estou sempre desprotegida demais para os olhares
alheios e as palavras displicentes.
Palavras
fortes arremessadas descompromissadamente sobre mim ferem-me como lanças
afiadas, desorganizam-me e me deixam como casa de avó em mês de férias. Por
isso, me escondo e espio de longe o grasnar alheio.
Você
pode me taxar de covarde e dizer que me escondo da vida... Não,
definitivamente, me escondo das pessoas e suas verdades estapafúrdias, dos seus
risos tão cheios de dentes. Mas, jamais consigo me esconder do que discordo,
não... Isso ainda me tira das veias, o sangue. Ver diante de meus olhos a
marcha triste da humanidade – faça sol ou chuva. Lá está ela, constante...
Por
isso não me interessa professar verdades, gritar revoltas... O mundo gira e
pára sempre no mesmo lugar. E tudo me parece sempre tão penosamente igual.
Patricja by Jaagaa |
Ananda
Sampaio***
Um comentário:
Muito intenso...
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