12 de dezembro de 2011

Carta à Virgínia






Virginia,

Acredito que não preciso de muito, que não preciso de nada. Confio em você e por isso te digo límpida e polidamente a verdade sobre mim. Tenho por dentro labirintos, caminhos e palavras feitas de nuvem – daquelas que sobem e condensam-se no céu. Ficam lá paradas, pairando sobre minha cabeça e de repente formam cavalos, pássaros, anjos, faces... Até se dissiparem e já não mais existirem.

E isso é só um pedaço. Sinto que juntei os estilhaços, mas os buracos feitos a bala ainda estão aqui, consigo até encaixar neles o indicador. É impossível livrar-se das lições aprendidas, ficam os vestígios – não há crime perfeito. Nem contra si próprio.

Eu nunca consegui vestir a roupa alheia, nunca consegui forçar meu rosto numa expressão falsamente verdadeira. E esse é meu problema – nunca uso disfarce. Por isso não saio por aí, estou sempre desprotegida demais para os olhares alheios e as palavras displicentes.
Palavras fortes arremessadas descompromissadamente sobre mim ferem-me como lanças afiadas, desorganizam-me e me deixam como casa de avó em mês de férias. Por isso, me escondo e espio de longe o grasnar alheio.

Você pode me taxar de covarde e dizer que me escondo da vida... Não, definitivamente, me escondo das pessoas e suas verdades estapafúrdias, dos seus risos tão cheios de dentes. Mas, jamais consigo me esconder do que discordo, não... Isso ainda me tira das veias, o sangue. Ver diante de meus olhos a marcha triste da humanidade – faça sol ou chuva. Lá está ela, constante...

Por isso não me interessa professar verdades, gritar revoltas... O mundo gira e pára sempre no mesmo lugar. E tudo me parece sempre tão penosamente igual.
Patricja by Jaagaa

Ananda Sampaio***



Um comentário:

Pollyana disse...

Muito intenso...