A minha solidão era enorme. Maior do que eu, maior do que o
mundo. Eu estava oca, com pés descalços no chão frio. Era eu e o peso do meu
corpo e toda tonelada de silêncio incidindo sobre mim. Janelas de vidro
fechadas tentando abafar o som da cidade que berrava ali perto.
Sem ter pra onde ir, há milhares de quilômetros de casa. Sem
uma voz familiar para acariciar meus ouvidos, sem uma mão conhecida para
aquecer a minha. Só o frio e a sensação gigantesca de independência, de
dependência gigante de si mesmo.
É tudo um mito. Construções de discursos que se refutam.
Discursos por todo lado, cada um desejando se sobressair por entre a cidade do
mundo. Todos desejando atenção, um recado pregado no poste pedindo clemência ou
apenas explicitando a revolta prostrada no peito e que muitas vezes não tem
nenhum lugar aonde ir.
Lamentações, excitações e arte. Pessoas como lixo, lixo mais
valioso do que pessoas. A cidade da contradição, a cidade de ninguém. Não é
minha, nem sua. Onde todos estão, mas a ninguém pertence.
E a solidão grita, cresce e se apodera dos rostos
desconhecidos, das almas inconsoláveis. Cidade da saudade de casa, de quem quer
e não pode voltar. Das tribos, das iras, dos milionários e dos miseráveis.
Cidade da música e da falta de canção – ritmo constante. Dias sem fim. Preto,
cinza.
Apenas indisposição ou pura fragilidade. Só sei do que vi.
Ananda Sampaio***
2 comentários:
vários mundos dentro do mundo
O tom da solidão. Lindo texto.
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