
Sem ter pra onde ir, há milhares de quilômetros de casa. Sem
uma voz familiar para acariciar meus ouvidos, sem uma mão conhecida para
aquecer a minha. Só o frio e a sensação gigantesca de independência, de
dependência gigante de si mesmo.
É tudo um mito. Construções de discursos que se refutam.
Discursos por todo lado, cada um desejando se sobressair por entre a cidade do
mundo. Todos desejando atenção, um recado pregado no poste pedindo clemência ou
apenas explicitando a revolta prostrada no peito e que muitas vezes não tem
nenhum lugar aonde ir.
Lamentações, excitações e arte. Pessoas como lixo, lixo mais
valioso do que pessoas. A cidade da contradição, a cidade de ninguém. Não é
minha, nem sua. Onde todos estão, mas a ninguém pertence.
E a solidão grita, cresce e se apodera dos rostos
desconhecidos, das almas inconsoláveis. Cidade da saudade de casa, de quem quer
e não pode voltar. Das tribos, das iras, dos milionários e dos miseráveis.
Cidade da música e da falta de canção – ritmo constante. Dias sem fim. Preto,
cinza.
Apenas indisposição ou pura fragilidade. Só sei do que vi.
Ananda Sampaio***
2 comentários:
vários mundos dentro do mundo
O tom da solidão. Lindo texto.
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