24 de abril de 2013

Conflito


Enquanto dou voltas ao redor do tempo, você sorri e diz que tudo ficará bem. E até contempla com muita parcimônia os pássaros ao redor do meu braço. E por um instante, breve e límpido, estou feliz novamente. Não sei até quando. Teus olhos me acariciam e o mundo de repente não tem massa, nem gravidade torna-se leve.

Você tenta dar chão aos meus passos. Mas, preciso caminhar só e aprender a trilhar e ultrapassar a fronteira que adaptei para que o mundo lá de fora não invada o mundo daqui de dentro. Pergunto-me o que será de mim, se terei mesmo que passar a ver navios. Se tanto nadarei e morrerei na praia – com a barriga cheia de água salgada.

Ás vezes no mais fundo do meu âmago desejo ser personagem – qualquer uma daquele meu escritor preferido. Então, lembro que enquanto desejo a vida desenrola e tudo que fiz foi me esconder. Construí minha própria casca, fundamentei meu chão e não permiti invasões e tudo isso jamais pôde evitar a guerra.

Sem milhares de homens, a guerra de um só. Às vezes conflito armado, às vezes guerra fria. E por alguns dias a enfadonha e esperada paz. A linha é reta e só pede que me equilibre – com pés titubeantes vou sobrevivendo. Não magistralmente, de forma que o que me sobra é sobreviver.

Aos terremotos, às intempéries e a todas as catástrofes naturais do meu ser. Preciso encontrar uma saída, uma maneira de fortalecer e ser parte do espetáculo, mesmo que por trás – nas coxias. Qual será a prece mais apropriada ou o jeito certo de dar o primeiro passo? A única coisa que sei é que preciso me soltar dos grilhões.

Ananda Sampaio***

2 comentários:

Gugu Keller disse...

Se ela é pela tua paz, siga em paz na tua guerra.
GK

Luciana Lís disse...

Hj todo mundo escreveu. Sera um momento de travessia?
Lindo texto.
Bjo