Morrem dentro de mim ensaios de
sonhos, traços abstratos de rosto, ressecam todos no sertão despovoado. Acenam
misteriosos os retratos recortados, os tantos olhos espalhados pelo chão – a sorrirem,
a chorarem, a ignorarem os vestígios cinzentos de dias contaminados. Endemias
de contrastes. Cacos contingentes.
Na sinuosidade de tuas mãos não
vi asas, vi foices. Na dança de tuas sobrancelhas não vi teto e sim tempestade.
Tonta e desassistida na minha mais solitária solidão, onde só eu me encaro.
Onde só eu me ouço. Dancei no ritmo alheio ao compasso. Só de birra ou quem
sabe de cansaço.
Estado esse que retirou da boca
as palavras, das mãos a expressão. No coração um rasgo, um tiro seco, um beijo
amargo – um berro amordaçado. Talvez apenas uma sombra da loucura. Abraço de
madrasta, toque de navalha. Meu instinto de sobrevivência e meu aspecto de leoa
morreram no reflexo claro da lagoa.
Ananda Sampaio
Um comentário:
Afogada na Proa foi o que eu mais gostei. Lindo, sensível ... !
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