“Quase nem respiramos,
gastos como estamos. Encontramo-nos nessa passiva e exausta disposição de alma
em que apenas queremos voltar ao corpo de nossa mãe, do qual fomos apartados. Todo
o resto é desagradável, forçado e fatigante”
Virginia Woolf – As Ondas,
p.225
Spring- por Vanessa Bell |
Vão-se os anéis e ficam os dedos. Vão os amores e fica o
coração partido. Parte o que éramos e fica apenas a impressão do que teremos
que ser. A vida é uma eterna perda, que nos mobiliza e nos força a retomar,
mesmo que a partir de destroços, o novo.
E pode ser que ela como uma mãe nada ordeira, queira apenas
nos acostumar a instabilidade do mundo, de uma maneira avessa nos preparar para
as eternas despedidas. Que se dissipam e retornam. Como um ciclo vicioso.
E raras vezes nos são proporcionadas oportunidades de reencontro.
Mas, tudo já mudou e muito do ficou não é suficiente para formar pontes sólidas
– daí a desilusão. A perda de um elo feito por quem éramos e que não pertence
mais a quem somos.
Promessas feitas por nossos lábios e quem não correspondem
mais a realidade presente. E como um náufrago tentamos resgatar a todo custo,
mas não há retorno.Quando voltarmos àquela mesma praia, muito estará mudado.
Inclusive os meus olhos não serão mais os mesmos e meus pés
estarão mais cansados. Mas, é sempre bom relembrar, reviver o que está sólida e
impassivelmente parado lá atrás. E sem perceber, tudo passa.
A onda vai e quando
volta eu já encontrei mais um canto em mim, antes escuro. Onde eu pude me
esconder por mais tempo do que o imaginado.
Quando resolvo desabitá-lo, há tantos cantos mais a minha espera... E ao abrir os olhos, há diante de mim um mar
maior do que eu vejo.
Ananda Sampaio***
Um comentário:
Que bom, mar grande. Tudo, menos o tédio.
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